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Alegoria à Academia Real da História (1735), por Francisco Vieira Lusitano |
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D. António Caetano de Sousa (1674-1759) |
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História Genealógica da Casa Real Portuguesa (folha de rosto) |
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Alegoria à Academia Real da História (1735), por Francisco Vieira Lusitano |
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D. António Caetano de Sousa (1674-1759) |
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História Genealógica da Casa Real Portuguesa (folha de rosto) |
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3. Gravura de Padrão e Carpinetti (1762) |
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4. A Família de Filipe V (van Loo; 1743) |
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6. D. Maria I como fundadora da Biblioteca Nacional (1783-1789) |
As origens da Sereníssima Casa de Bragança remontam ao início da Segunda Dinastia, de Avis ou Joanina. O casamento entre Dom Afonso, filho natural do Rei Dom João I e Dona Brites Pereira, filha única do Condestável Dom Nuno Álvares Pereira, funda uma casa poderosa e de primeiríssima nobreza, unidos pelo sangue à família real. Os senhores desta Casa seriam Duques de Bragança, de Barcelos e de Guimarães, Marqueses de Valença e de Vila Viçosa, Condes de Ourém, Arraiolos, Neiva, Faro, Faria e Penafiel, e Senhores de Monforte, Alegrete, Vila do Conde, Braga, Penela, Alter do Chão e Ilha do Corvo; no final do século XV detinham 50 vilas, cidades e castelos, e mais de um milhar de pequenas povoações de norte a sul do país.
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Estátua equestre de D. João IV, rei de Portugal |
As doações de terras do Rei e do Condestável formam o património inicial da Casa de Bragança, incluindo Vila Viçosa. O lema da família "Depois de Nós Vós" é simbólico do poderio que esta família granjeia nos assuntos do reino logo desde a sua génese. O Ducado de Bragança é finalmente criado quando o Príncipe Regente D. Pedro, 1º Duque de Coimbra, atribui ao seu meio-irmão D. Afonso, Conde de Barcelos, o título de Duque de Bragança a 30 de Dezembro de 1442. O sucessor de D. Afonso, D. Fernando I, é premiado pelas suas façanhas militares com o cargo de Governador de Ceuta e Marquês de Vila Viçosa, nascendo a relação com esta terra alentejana.
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Vista aérea do Paço Ducal de Vila Viçosa (Fonte: SIPA) |
A influência da Casa de Bragança decaiu durante o reinado de Dom João II. Dom Fernando II foi acusado de traição e executado às ordens do Príncipe Perfeito em 1483, procedendo-se ao confisco de bens, títulos e terras. Mas a sua proeminência foi restabelecida com a subida ao trono de D. Manuel I mediante um juramento de lealdade à Coroa. Será com Dom Jaime I, quarto Duque de Bragança, que a família estabelece definitivamente o seu centro de poder em Vila Viçosa. Por outro lado, Dom Jaime é condenado a financiar e a liderar a conquista de Azamor (1513), após ter encomendado o assassinato da sua primeira esposa Leonor de Guzmán por suspeitas de infidelidade.
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Fresco relativo à conquista de Azamor, no Paço Ducal de Vila Viçosa (Fonte: Foto do autor) |
Ao reapossar-se das terras previamente confiscadas, Dom Jaime I inicia em 1501 a edificação de uma sede ducal em Vila Viçosa. São deste período o claustro, a capela e as salas de armaria. Quando o seu filho e sucessor, o humanista Dom Teodósio, herda o Paço considera-o "chãmente obrado" e que tinha "desconversáveis serventias".
Será com este mecenas do Renascimento português que o Paço Ducal ganhará imponência. A ele se deve a bela fachada ao gosto italiano e com 110 metros de comprimento, a fazer lembrar o Palácio Rucellai de Leon Battista Alberti, referência incontornável do Primeiro Renascimento. Os dois primeiros pisos foram concebidos durante a campanha de obras que antecipou o casamento do Infante D. Duarte (filho de D. Manuel I) e Isabel de Bragança (irmã de D. Teodósio) em 1537, quando entre outros convidados receberam a Família Real. É também neste período que floresce uma notável Escola de Música sob a égide dos Duques de Bragança.
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Pormenor da fachada principal |
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Palácio Rucellai em Florença (c. 1460) |
A Casa de Bragança subiria ao trono somente em 1640, no contexto da Restauração da Independência face a Espanha, quando o oitavo Duque de Bragança é coroado como Dom João IV. O Paço Ducal de Vila Viçosa passará assim a ser uma entre muitas residências reais espalhadas pelo país, usada primariamente como casa de veraneio, terreno agrícola e para a caça.
O Paço Ducal voltará a ter um momento áureo no reinado de João V, aquando dos casamentos duplos entre as casas reais portuguesa e espanhola, episódio conhecimento como "A Troca das Princesas". Novas campanhas de obras vão dotar o Palácio de melhorias no andar nobre, na cozinha e na capela.
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Porta manuelina simbolizando o lema "Depois de Nós Vós". Fonte: Foto do autor |
Luís Alves Carpinteiro | Cabo Não
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O britânico George Blagden na pele do Rei-Sol Luís XIV |
Versailles é uma série histórica de três temporadas, centrada na construção do Palácio de Versalhes e no reinado do Rei-Sol Luís XIV (r. 1643-1715). Apesar de falada em inglês para apelar ao grande público, a série é uma produção francesa, mantendo-se até à data como a mais dispendiosa a sair desse país. O investimento fica patente nas localizações em vários palácios franceses (incluindo em cenas-chave, a própria Versalhes) e nos vestuários, feitos por costureiros profissionais segundo preceitos da época. Neste artigo abordamos o fundo histórico da série e a realidade dos seus personagens, com enfoque particular no Caso dos Venenos, o maior escândalo político do reinado de Luís XIV, retratado na primeira e segunda temporadas.
A História é a seguinte: O ano é 1667. Com o terror das Frondas ainda presente, Luís XIV decide deslocar o centro do poder para fora de Paris e converter o antigo pavilhão de caça do seu pai numa das mais opulentas residências reais da Europa. A periférica vila de Versalhes vai servir de berço para um dos mais ambiciosos projectos de poder até então concebidos: O Absolutismo Régio.
"A new France will be born and this palace will be her mother" (S1; Ep1)
O pano de fundo da construção do Palácio de Versalhes não é apenas um espaço físico para o desenrolar da narrativa, formando antes um verdadeiro espaço psicológico: em construção está a sociedade de corte do Antigo Regime, com o monarca absoluto no seu epicentro. Ofuscada pelo brilho do Rei-Sol está uma prisão dourada concebida para hospedar uma nobreza domesticada com luxo e luxúria, entretenimento e alienação, reduzindo a conflitualidade política do reino ao mínimo.
O uso de Versalhes como cenário para a totalidade da série é uma liberdade criativa que se compreende, dada a sua força como elemento narrativo e a linguagem visual que nos transporta para a época: no entanto, o Palácio de Versalles só se tornou residência oficial do Rei-Sol mais tarde, a partir de 1682, e tudo indica que antes disso o monarca apenas o tenha ocupado por breves períodos.
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Luís XIV e a sua família representados numa cena mitológica, numa pintura de Jean Nocret |
Ao longo das duas primeiras temporadas acompanhamos o ficcional chefe da polícia Fabien Marchal, que investiga uma sequência de misteriosos envenenamentos, que assombram o Palácio de Versalhes e os seus nobres residentes. Este enredo vai culminar no final da segunda temporada, com o desvendar do Caso dos Venenos, um escândalo político bem real que abalou a sociedade francesa da época, protagonizado na série pela Marquesa de Montespan, pelo padre Éttiene Guibourg e pela cartomante Madame Agathe (inspirada na histórica Catherine Monvoisin, também conhecida como "La Voisin").
A maior consequência política deste escândalo foi a queda em desgraça da Marquesa de Montespan, outrora a toda-poderosa amante oficial do rei de França (maîtresse-en-titre), considerada por muitos como "a verdadeira rainha de França". Ao contrário do que a linha temporal da série poderá sugerir, a relação entre Luís XIV e a Marquesa de Montespan estendeu-se por mais de uma década e gerou sete filhos, todos eles legitimados pelo rei com excepção de Luísa Francisca de Bourbon (n. 1669), que morreu aos dois anos de idade.
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Françoise-Athénaïs de Rochechouart, Marquesa de Montespan, representada por Anna Brewster |
Caso dos Venenos: Um escândalo político na corte de Luís XIV
Cenas retratadas na série, como a missa negra celebrada sobre o corpo nu da Montespan ou a morte na fogueira de Madame Agathe, encontram eco em acontecimentos históricos verídicos: suspeita-se que Montespan terá efectivamente participado por várias ocasiões nestes rituais e a sentença de morte de "La Voisin" foi levada a cabo em 1680. O caso começa em finais da década de 1670 quando um número crescente de envenenamentos no seio da aristocracia francesa alarma as autoridades. Paralelamente, muitos padres denunciavam ouvir com cada vez mais frequência relatos destes crimes nos seus confessionários:
"A moda dos venenos veio de Itália. Cicuta, beladona, cantárida, óleo de vitríolo, e, sem qualquer dúvida, arsénico são utilizados por quem se quer livrar de um pai, de um irmão, de um marido demasiado velho ou impotente, de um amante que está a estorvar. Uma moda que se tornou um verdadeiro flagelo." Éric Le Nabour
Em 1676 a Madame de Brinvilliers é sentenciada à morte depois de envenenar o pai e dois irmãos de forma a se apropriar de uma herança familiar. Seguem-se as prisões e interrogatórios de Magdeleine de La Grange em 1677 e de Marie Bosse em 1679, que revelam uma teia de cartomantes distribuidoras de venenos, "mais de quatrocentas" segundo uma das testemunhas, com ligações nas mais altas esferas da corte.
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O personagem Fabien Marchal é vagamente inspirado em La Reynie, chefe da polícia de Luís XIV |
O eleito para liderar a investigação é Gabriel-Nicolas de La Reynie, um brilhante e implacável Tenente Geral de Polícia a quem é muitas vezes atribuída a criação da primeira força policial moderna. Simultaneamente é formado no Arsenal de Paris um tribunal especial, que ficará conhecido para a posteridade como "Tribunal contra os heréticos e envenenadores" ou chambre ardente.
Era apenas uma questão de tempo até a investigação levar as autoridades até Catherine Monvoisin, uma parteira suspeita de encabeçar a organização criminosa. "La Voisin" recebera, segundo a própria, os seus dotes psíquicos aos nove anos, mas apenas iniciara a sua comercialização após a morte do marido, que a deixara na pobreza. Os seus serviços de cartomancia e adivinhação, fabrico de "filtros de amor" e amiúde venenos, rapidamente a tornaram uma figura popular na sociedade parisiense. Para alguns clientes especiais poderia mesmo organizar missas negras, com recurso a associados como o padre excomungado Éttiene Guibourg, que podiam incluir o sacrifício ritual de crianças, que acreditavam aumentar a eficiência dos seus pedidos ao senhor das trevas.
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Retrato da infame "La Voisin", segurado por um demónio com asas (1680) |
A polícia toma partido das rivalidades entre as cartomantes para extrair delas uma lista de ilustres clientes: nela figuravam as irmãs Olympia e Marie Anne Mancini, Condessa de Soissons e Marquesa de Bouillon respectivamente, François Henri de Montemorency, Duque de Luxemburgo e mais importantemente, a maîtresse-en-titre Marquesa de Montespan.
As consultas de Montespan com Catherine Monvoisin remontavam pelo menos a 1667, quando esta era apenas aia de Henrietta de Inglaterra (cunhada do rei) e ambicionava roubar o afecto de Luís à maîtresse anterior, Louise de La Vallière. Na série, estas consultas intensificam-se à medida que Montespan vai perdendo o favor do rei, procurando desta forma ganhar vantagem sobre potenciais rivais mais jovens e atraentes. Na realidade, a amante real recorrera à cartomante ainda antes do início da sua relação com Luís XIV, para obter as poções afrodisíacas que administrava ao rei sem conhecimento do próprio.
A revelação mais chocante foi a participação da Marquesa de Montespan em missas negras nas quais, pelo menos numa ocasião, o seu corpo nu teria servido de altar humano para o celebrante Éttiene Guibourg. O momento central destes cultos demoníacos seria o sacrifício ritual de crianças, raptadas por "La Voisin", tomando partido do seu ofício como parteira. Em 1927, o ocultista britânico Montague Summers produziu uma descrição imaginada de uma destas missas:
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A missa negra celebrada pelo padre Guibourg, como ilustrada em The Guibourg Mass (1903) |
"Uma longa mortalha foi estendida sobre o altar, e sobre ela se deitou a amante do rei, em estado de completa nudez. Seis velas negras foram acesas, o celebrante vestiu uma casula com caracteres esotéricos bordados em prata, a patena e o cálice de ouro foram colocados sobre o ventre nu do altar vivo (...) Tudo estava em silêncio, excepto pelo murmúrio grave e monótono da liturgia blasfema (...) Uma acólita avançou trazendo uma criança nos braços. A criança foi erguida sobre o altar, um corte profundo no pescoço, um choro abafado, gotas quentes caíram para o cálice e sobre a figura branca abaixo. O cadáver foi entregue a La Voisin, que o atirou com indiferença para dentro de um forno feito para o efeito, que brilhava incandescente com ferocidade."
Ao que parece, o rei tudo fez para proteger a sua favorita e evitou até ao fim que esta fosse julgada, mesmo depois de a ter trocado pela Marquesa de Maintenon em 1680 e mais surpreendentemente, perante acusações de uma possível tentativa de regícidio, em que Montespan movida por cíumes teria atentado contra a vida do rei e da Duquesa de Fontanges, uma jovem com quem o monarca teve um fugaz relacionamento.
No dia 22 de Fevereiro de 1680 o Caso dos Venenos era levado ao seu desenlace macabro com a morte na fogueira de Catherine Monvoisin na Place de Grève. No seu livro Sex with Kings (2005) Eleanor Herman afirma que a polícia francesa desenterrou vestígios de 2500 corpos de bebés nas imediações da casa da feiticeira, no entanto isto não passa de um boato.
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A série Versailles está disponível na Netflix Portugal |
Logo após a execução, Marguerite Monvoisin reiteraria as acusações da sua mãe contra a Marquesa de Montespan, que nunca viria a ser julgada. A antiga favorita seria relegada a um pequeno apartamento no Palácio de Versalhes, nunca recuperando o protagonismo de outros tempos. Em 1691, retirar-se-ia definitivamente da corte para o convento carmelita de Filles de Saint-Joseph. Morreria em 1707 nas termas de Bourbon-l'Archambault, para onde se deslocara para receber tratamento. Perante a notícia da sua morte, o rei proibiu os seus filhos conjuntos de lhe prestarem luto.
Ao longo dos seus três anos de existência, a chambre ardente levaria a cabo 210 sessões, dando ordem de prisão por 319 vezes e mandando executar 36 pessoas. Agastado pelos custos políticos do escândalo, seria o próprio monarca a promover a dissolução do tribunal em 1682, com os remanescentes suspeitos a serem encarcerados por lettre de cachet. Quanto aos nobres cuja proximidade do rei deixou intocados pela mão da justiça, o Tenente Geral La Reynie teve isto a dizer: "a enormidade dos seus crimes provou ser a sua salvaguarda".
Luís Alves Carpinteiro | Cabo Não
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Rocroi, el último tercio (Ferrer Dalmau) |
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Fortaleza de Peniche, exemplo português de uma fortaleza em traçado italiano |
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D. Filipa de Vilhena armando os filhos cavaleiros de Vieira Portuense (1801) |
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Modelo 3D da GEODRONE. |
"experimentaram-se quatro minas, mas houve cinco desgraças de pernas e braços quebrados e logo um morreu feito em pedaços".
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"Guilherme, Conde de Schaumburgo-Lippe" (Johann Georg Ziesenis, circa 1770) |
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Imagem aérea do Forte de Nossa Senhora da Graça. Retirada de www.starforts.com |
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Manuel Godoy como vencedor da Guerra das Laranjas, por Francisco de Goya |