O conceito de "revolução militar" foi introduzido pelo historiador Michael Roberts na década de 1950, para descrever uma transformação disruptiva das instituições militares europeias quanto às suas tácticas, treino e doutrina, ocorrida entre os séculos XV e XVII. Estas mudanças radicais são personificadas principalmente pelas reformas militares empreendidas pelos impérios holandês e sueco.
Roberts afirma que a revolução militar é centrada na adopção das tácticas lineares de infantaria e no aperfeiçoamento das armas de fogo. É igualmente neste período que os contingentes militares vão crescer exponencialmente e estabelecer pela primeira vez forças permanentes.
Por outro lado, Geoffrey Parker destaca o desenvolvimento de fortalezas abaluartadas em trace italienne, surgidas em finais do século XV no contexto das Guerras Italianas (1494-1559). Os bastiões em trace italienne permitiram eliminar os pontos mortos e proteger os sitiados de fogo directo, ao mesmo tempo que criavam pontos estratégicos para a artilharia defensiva.
Parker critica o argumento das tácticas lineares de Roberts, salientando o exemplo dos terços espanhóis que obtêm uma grande vitória na Batalha de Nordlingen (1634) contra os suecos. Além da importância dos terços, destaca o que denomina como "revolução naval", onde se desenvolvem navios-de-linha possuindo canhões ao longo dos seus flancos, que permitem atacar o inimigo à distância e, desta forma, evitar a abordagem directa.
Rocroi, el último tercio (Ferrer Dalmau) |
O estados passam a deter instituições militares centralizadas, sendo obrigados a fornecer todo um leque de mantimentos para contingentes militares cada vez maiores. Por conseguinte, e procurando prolongar o esforço bélico até obter um resultado favorável, as potências europeias vão contrair dívidas exorbitantes, requisitar auxílio financeiro dos seus comandantes e permitir o saque total de certas províncias e cidades, com os exemplos mais conhecidos do Saque de Roma (1527) e a Fúria Espanhola em Antuérpia (1576).
Fortaleza de Peniche, exemplo português de uma fortaleza em traçado italiano |
O aumento dos contingentes militares trouxe consigo a frenética procura de novos recrutas, especialmente a contratação de soldados mais experientes que já detinham um conhecimento profundo da guerra. É o nascimento do militar profissional, personificada em indivíduos como Robert Monro que vagueavam o continente europeu à procura de novas oportunidades para servir em conflitos armados.
Geoffrey Parker sublinha, igualmente, a existência de "exércitos Arca de Noé" que detinham soldados do mais variado estrato social, desde criminosos, milícias locais, mercenários, vassalos e elementos da nobreza.
O ideal de cavalaria medieval deixa de ser venerado como havia sido antes, passando a arte militar romana a ser tida em consideração e reverência pela aristocracia francesa e italiana. Thomas Arnold refere a replicação de técnicas navais, por parte da República de Veneza na sua oposição ao Império Otomano.
O predomínio da infantaria neste período está na origem do afastamento das unidades de cavalaria que não são totalmente abandonadas mas sim incorporadas em divisões mais ligeiras. Apesar da cavalaria oferecer maior mobilidade que a infantaria, revela-se um alvo fácil para armas de fogo com aperfeiçoada capacidade de fogo.
No final do período da Idade Moderna, a forma de fazer a guerra encontrava-se totalmente revolucionada. Criavam-se novos regulamentos e jurisdições para a manutenção e funcionamento dos contingentes militares e a mentalidade militar alterara-se dramaticamente. Onde antigamente existia um só protagonista no campo de batalha, agora passava a existir uma correlação de forças, quebrando definitivamente com o modus belandi medieval.
FAC
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