sábado, 8 de fevereiro de 2020

SIDÓNIO PAIS, O PRESIDENTE-REI


Sidónio Bernardino Cardoso da Silva Pais nasceu no primeiro de Maio de 1872 no distrito de Viana do Castelo, mais especificamente na vila de Caminha. Irmão de cinco, Sidónio teve desde cedo de apoiar a sua família que detinha poucas posses e se encontrou numa situação bastante precária após a morte do seu pai no ano de 1883.

Desta forma, o jovem de Caminha enveredou pela carreira militar em 1888, ingressando na Escola do Exército onde se especializou em artilharia. Paralelamente à carreira militar, licencia-se em Coimbra nos cursos de Matemática e Filosofia.

Após concluir o seu doutoramento em 1898, Sidónio passa a leccionar na Faculdade de Coimbra onde ensina matemática, a sua especialidade. Aos 22 anos casa-se com Maria dos Prazeres Bessa, que o acompanhará para o resto da sua vida.

Jovem de ideais republicanos, como muitos da sua época, vem a ser convidado para aderir à Maçonaria e, efectivamente, junta-se à sociedade secreta com o nome de "Irmão Carlyle", da loja maçónica "Estrela d`Alva".

                               Da esquerda para a direita: Bernardino Machado, Teófilo Braga
                                          António José de Almeida e Afonso Costa. (1911)

Entre 4 de Setembro e 3 de Novembro de 1911, Sidónio Pais faz a sua estreia na política ao assumir a pasta do Fomento no governo de João Chagas. É igualmente ministro das Finanças durante o executivo de Augusto de Vasconcelos em 1912. A partir de 17 de Agosto do mesmo ano é enviado numa missão diplomática a Berlim, onde ganha enorme admiração pela nação germânica, retornando em 1916 a Portugal.

Quando regressa depara-se com um enorme descontentamento contra o governo de Afonso Costa, que tinha recentemente envolvido Portugal na Grande Guerra, deixando um rasto de inflação e escassez de bens essenciais no seu caminho e uma opinião pública fortemente dividida com as suas tentativas de tornar o estado laico.

                                Major Sidónio Pais com o Dr. Moura Pinto no acampamento
                                                                  de Campolide. (1917)
                         

Com o apoio inicial do unionista Brito Camacho, Sidónio  vai iniciar uma conspiração entre as patentes do exército com vista a uma revolução armada. No dia 5 de Dezembro de 1917, concentra 1500 homens à volta da actual praça do Marquês de Pombal e no Parque Eduardo VII, coordenando as barragens de artilharia contra as posições governamentais no Rossio.

O golpe sidonista vem a terminar 3 dias depois, resultando na morte de 100 pessoas, formando-se uma Junta Militar Revolucionária com Sidónio como seu Presidente. O novo líder da República Portuguesa iria expor a sua visão para o futuro, afirmando o seguinte quando passava pela região de Beja em 1918: 

"O regime parlamentar já deu todas as suas provas durante oitenta anos de constitucionalismo monárquico e as provas são negativas. Em pleno século XX não é possível o regime absoluto, tendo-se portanto que optar pelo regime republicano; mas para isso é necessário que o país se pronuncie sobre a forma de regime que deve optar: se parlamentar , se presidencialista. O primeiro faliu; o segundo é a Ideia Nova." 

De forma a realizar os seus planos para uma "República Nova", Sidónio vem a planear e a vencer as eleições presidenciais de 1918, obtendo o maior número de votos na história da I República, 513.958 votos por sufrágio universal directo. Durante o seu governo de carácter presidencialista declara-se uma amnistia geral com os monárquicos, termina-se com a censura, altera-se a Lei de Separação entre as Igrejas e o Estado e cultiva-se uma imagem pública fortíssima do Major, que se apresenta constantemente fardado e junto das massas populares.

                               No dia da sua proclamação na varanda dos paços do concelho.
                                                                            (1918)


Não obstante toda a imagem e apoio popular que galvanizou, o regime sidonista não fez face às questões importantes que assolavam a nação. Portugal mantém-se na guerra e sofre uma estrondosa derrota em La Lys, o número de presos políticos aumenta, a censura volta a ser imposta, o Estado impõe um controlo total na vida económica e recorre a linhas de crédito em Inglaterra e, por fim, o sector anarquista do operariado mobiliza-se novamente com as greves e os ataques à bomba.

A 5 de Dezembro de 1918 ocorre a primeira tentativa de assassinato contra o Presidente levada a cabo por um jovem de 19 anos, chamado Luís Maria Baptista, que tenta disparar contra Sidónio quando este saía do Comando Central das Defesas Marítimas. Quando este prime o gatilho, a arma vem a encravar das três vezes que é disparada e Sidónio escapa ileso.

                                Seguido por uma multidão numa das suas visitas a obras
                                                                 de caridade. (1918)

Contudo o destino não lhe escapa e na noite de 14 de Dezembro de 1918, quando este se deslocava à estação do Rossio para apanhar o comboio para o Porto, é morto a tiro pelo republicano radical José Júlio da Costa. O assassino supostamente terá sido ofendido pelo presidente e chegou mesmo a afirmar isto quando cometeu o acto: " O senhor desonrou-me e desta forma vou o matar".

Na confusão, o seu segurança Capitão Cameira agarrou-o, enquanto se gerava um tiroteio, ouvindo as últimas palavras do militar: " Não me apertem rapazes!", ao contrário da lenda jornalística que dita que as palavras finais terão sido: "Morro e morro bem! Salvem a Pátria"!.

Fortes suspeitas caem sobre os ombros da Maçonaria, especialmente quando se soube que o assassino teria visitado Sebastião de Magalhães Lima antes de cometer o acto. Contudo nunca se soube ao certo se alguém teria motivado José Costa a actuar ou se este teria actuado por sua própria vontade.

                                
                                  O corpo do Presidente Sidónio Pais em estado de repouso.
                                                                              (1918)

Deixando para trás um projecto presidencialista pouco pensado e recém indigitado, o regime sidonista pouco sobreviveria depois da morte do seu líder. Tal como se criou um mito de nebulosidade e esperança à volta de D. Sebastião, Sidónio Pais também ganhou formato no imaginário popular como o líder que a pátria poderia ter tido mas lhe foi negado.

Fernando Pessoa que era poeta de poucos elogios para com os líderes políticos, atribui de forma generosa uma dedicatória ao líder sidonista, cujo título em si demonstra bem a origem do mito:

"À Memória do Presidente-Rei Sidónio Pais

(...) Quem ele foi sabe-o a Sorte,
Sabe-o o Mistério e a sua lei.
A vida fê-lo herói, e a Morte
O sagrou Rei!

(...) Sê estrada, gládio, fé, fanal,
Pendão de glória em glória erguido!
Tornas possível Portugal
Por teres sido!

(...) Até que Deus o laço solte
Que prende à terra a asa que somos,
E a curva novamente volte
Ao que já fomos

E no ar de bruma que estremece
(Clarim longínquo matinal)
O DESEJADO enfim regresse
A Portugal!"

FAC

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