terça-feira, 27 de março de 2018

FORTE DE NOSSA SENHORA DA GRAÇA


Modelo 3D da GEODRONE.

Altaneiro sobre a cidade de Elvas, ergue-se imponente o Forte de Nossa Senhora da Graça, considerado por vários historiadores como o maior feito da arquitetura militar portuguesa e integrado no maior sistema de fortificações abaluartadas de todo o mundo. 

Foi construído num dos pontos cimeiros da região, o Monte da Graça, do qual herda o nome. A primeira pedra foi assente em 1763 e a última cerca de três décadas mais tarde em 1792. Estima-se que seis mil operários tenham assistido na sua edificação, cujo custo foi muito elevado em vidas humanas. Um relato de 1764 dá conta da dureza dos trabalhos e dos frequentes acidentes:
"experimentaram-se quatro minas, mas houve cinco desgraças de pernas e braços quebrados e logo um morreu feito em pedaços".
A preponderância estratégica do Monte da Graça evidenciou-se no contexto da Guerra da Restauração. Durante o cerco que antecedeu a Batalha das Linha de Elvas (1659), o monte foi tomado pelos espanhóis que lá instalaram as suas peças de artilharia e bombardearam impiedosamente a cidade. A situação repetiu-se em 1762 durante a Guerra dos Sete Anos, quando Elvas foi mais uma vez sitiada.

A cidade-quartel de Elvas era cognominada na época de "Princesa da Fronteira" e de "Chave do Reino". Isto devia-se a que quem quisesse subjugar Portugal, tomando Elvas tinha o caminho aberto para Lisboa, a cabeça do Reino. O rei Dom José foi quem acordou para a necessidade de reforçar este trecho da fronteira, que em alturas de invasão era invariavelmente assediado.  

Em 1763, perante a iminência de uma invasão da recentemente formada aliança entre franceses e espanhóis, o Marquês de Pombal convida o  Conde de Lippe para organizar a defesa do reino. A administração militar de Lippe encetará  um extenso programa de reparação e de edificação de novas fortificações, entre as quais o Forte da Graça.

"Guilherme, Conde de Schaumburgo-Lippe" (Johann Georg Ziesenis, circa 1770)

Após o delineamento da gigantesca obra, o Engenheiro Pierre Robert de Bassenond foi encarregue da sua execução. A primeira planta seria desenhada por Luís Gomes de Carvalho e a direção dos trabalhos atribuída ao Capitão Engenheiro Etiénne. Etiénne e Lippe abandonarão o projeto em 1764, recomendando o Coronel Valleré que prosseguirá com a obra.

Valleré realizará alterações vitais no projeto, que conferirão à fortaleza um "grau de sofisticação defensiva inexcedível". O zelo de Valleré foi ao ponto de "esgotar tudo o que de melhor havia na arquitetura militar daquela altura" e ainda "inovar a vários níveis", como ficou patente nas diversas particularidades que dão ao Forte da Graça um carácter único em todo o mundo: uma notável simetria das formas geométricas; uma utilização inovadora dos espaços subterrâneos; uma modelação elevada que impede a visibilidade aos ofensores e ainda o emprego do revolucionário "2º Sistema de Pagan" que se caracterizava pelos "ângulos obtusos e linha de defesa rasante, sem flancos secundários".

A sua geometria em formato de "estrela" foi concebida para enfrentar uma nova forma de fazer guerra, possibilitada pelos grandes desenvolvimentos na artilharia móvel registados nesta época. As várias etapas de melhoramento tornaram a fortaleza praticamente inexpugnável. Não tardaria a ser posta à prova, resistindo ao assédio dos espanhóis na Guerra das Laranjas (1801) e ao bombardeamento infligido por Soult no contexto da Guerra Peninsular (1811).

No âmbito das disputas entre liberais e absolutistas foi convertido em presídio político, estatuto que manteve até tão recentemente quanto 1975. Atualmente, o Forte de Nossa Senhora da Graça integra o conjunto "Cidade-quartel fronteiriça de Elvas e suas fortificações", considerado Património Mundial da Humanidade pela UNESCO em 2012. 


Imagem aérea do Forte de Nossa Senhora da Graça. Retirada de www.starforts.com





Luís Alves Carpinteiro | Cabo Não 

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