terça-feira, 5 de setembro de 2017

GUERRA DAS LARANJAS


A Guerra das Laranjas, decorrida entre Maio e Junho de 1801, foi uma das numerosas guerras que opôs portugueses e espanhóis nas suas raias. Embora periférica relativamente ao epicentro do conflito, é vulgarmente inserida na “Guerra da Segunda Coligação” que opôs várias potências europeias à França Revolucionária na fase final da sua revolução. Em 1793, o rei de França Luís XVI é executado no decurso do processo revolucionário que prosseguia no seu país. A este ato segue-se um escalar das relações diplomáticas e são tomadas providências militares por parte de várias nações europeias, receosas pela propagação do espírito revolucionário para os seus países. Inglaterra torna-se a principal opositora da França Revolucionária e a ela juntam-se Espanha e Portugal, que é arrastado para o conflito devido à sua longa aliança com a Inglaterra. O Príncipe Regente D. João envia uma unidade auxiliar, liderada pelo tenente-coronel John Forbes Skellater, com o objectivo de reforçar o exército espanhol e invadir a França através dos Pirenéus. Esta incursão militar, que ficará para a história como “Campanha do Rossilhão”, teve início no ano de 1793. Inicialmente produziu resultados favoráveis para a coligação luso-hispânica que captura diversas praças, nomeadamente Ceret e Villelongue. No entanto durante o inverno de 1793 as tropas aliadas são desbaratadas e perdem paulatinamente todo o terreno conquistado. Na primavera de 1794 as tropas francesas forçam a retirada das tropas aliadas para a Catalunha onde ocupam praças espanholas. A 22 de Julho de 1795, a coroa espanhola assina bilateralmente com a França o Tratado de Basileia; os representantes portugueses são excluídos deixando o Portugal efetivamente fora das conversações de paz. Na sequência do tratado todas as hostilidades são cessadas e a França devolve os territórios ocupados na Catalunha. A Portugal são impostas pesadas condições, entre as quais a cessação da aliança inglesa e perdas territoriais nas colónias, pelo que mantêm o estado de guerra com a França, sem nunca negociar um tratado de paz. A 18 de Agosto de 1796, o Tratado de Santo Ildefonso firma uma aliança militar entre franceses e espanhóis; e segundo a suspeita de Rodrigo de Sousa Coutinho, um acordo secreto entre as duas potências para a conquista e partilha do território português. Reuniam-se as condições para o eclodir do conflito.


Manuel Godoy como vencedor da Guerra das Laranjas, por Francisco de Goya

A Guerra das Laranjas foi um conflito de escala imperial com campos de batalha separados por milhares de quilómetros. No final de Maio de 1801, território português é invadido pelo Alentejo, com a grande massa dos conflitos a ocorrerem nesta região. Num espaço de dois dias, através de movimentações rápidas e de divisões de unidades, o exército espanhol toma várias praças alentejanas, nomeadamente Juromenha, Arronches e Olivença, que capitulam sem oferecer resistência. Campo Maior suportaria um penoso cerco até à capitulação a 7 de Junho. Elvas por ser dotada de espessas muralhas e numerosa guarnição nunca viria a cair. A operação relâmpago levada a cabo pelos Espanhóis deixou as forças portuguesas sem reacção. Na noite de 29 de Maio, reúne-se em Portalegre um conselho de guerra presidido pelo Duque de Lafões. Reconhece-se a impossibilidade de manter uma linha de defesa ao longo da raia pelo que é deliberado um recuo em direção ao Tejo. Reúne-se um outro conselho de guerra que decide concentrar o exército na área do Gavião, de modo a evitar perdas maiores. A linha defensiva é formada mas devido à falta de missões de reconhecimento passam-se dias sem que se conheça a localização das forças espanholas. Sofrendo o atrito da escassez de alimentos, o Duque de Lafões decide despachar uma pequena divisão liderada por D. José Cárcome Lobo que busca mantimentos em povoações limítrofes. Porém no decurso da missão são surpreendidos por uma vasta força espanhola, seguindo-se uma debandada até à Aldeia da Mata onde ocorre uma troca de fogo de artilharia até nova retirada das forças portuguesas. Foram também registadas escaramuças em Trás-os-Montes e no Algarve. Na região setentrional do país, sucede uma incursão militar de forças comandadas por Gomes Freire que tentam sem sucesso tomar a vila galega de Monterrey. No Algarve trocam-se disparos das margens do Guadiana. Sucede-se uma tentativa de travessia pelas hostes espanholas que são repelidas pelas portuguesas. Perante a notícia de declaração de guerra e sem instruções específicas da Coroa, o governo do Rio Grande do Sul, que tinha velhas ambições expandir o domínio até aos “limites naturais” do Rio da Prata e do Rio Uruguai, expediu dois corpos militares. Os colonos recorrem a tropas milicianas que ocupam fortins e fortalezas espanholas. Perante a tomada de várias posições, os habitantes começam a vazar as praças que são facilmente tomadas. Por sua vez os colonos espanhóis investem sobre o Forte de Coimbra em Mato Grosso. São no entanto repelidos pela artilharia portuguesa que provoca a sua retirada. As forças portuguesas contra atacam e tomam o forte de São Jorge, fixando nova fronteira no rio Apa. Enquanto o conflito durava, já o governo português tomava providências para dar início às conversações de paz. Para o efeito é despachado por Lisboa o embaixador Luís Sousa Coutinho. Houve uma tentativa de retardação das negociações por parte do marechal Godoy, que penetrava cada vez mais em território português para deste modo obter vantagem na mesa negocial. Luís Sousa Coutinho manteve-se em constante diálogo com o Príncipe Regente e do lado espanhol as negociações estavam debaixo do escrutínio atento de Napoleão Bonaparte através da pessoa do seu irmão Luciano. No dia 8 de Junho, é assinado o Tratado de Badajoz e as hostilidades cessam. Porém o tratado só é ratificado pelo Príncipe Regente alguns dias mais tarde, permitindo a operação de Gomes Freire. O tratado nunca foi aceite por Napoleão que exigia condições mais severas e pressionou a sua aliada a repudiar o acordo. Carlos IV recusou as imposições napoleónicas e não quis reiniciar o conflito. Desta forma iniciou-se uma nova ronda de negociações em Madrid, onde os intervenientes vieram a assinar o Tratado de Madrid que formaliza o fim da guerra que durava desde a campanha do Rossilhão.


LAC e FAC

Sem comentários:

Enviar um comentário