quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

OS DESCOBRIDORES: FINALMENTE, A ÍNDIA

 

Após a dobra do Cabo da Boa Esperança, o caminho estava aberto para a chegada à Índia, cobiçada terra de riquezas e especiarias. Em 1494, a habilidade diplomática de D. João II garante um monopólio da Rota do Cabo para a coroa portuguesa, ao negociar com os Reis Católicos de uma Espanha recém-unificada o Tratado de Tordesilhas, o primeiro acordo de divisão bipolar da totalidade do globo em esferas de influência. A Portugal coube o quinhão de leão: se por um lado mantinha os adversários espanhóis à distância do Índico, por outro colocava já um pé no inexplorado Brasil. O tratado impunha ainda a doutrina do Mare Clausum às outras nações, segundo a qual as potências ibéricas obtinham exclusividade sobre os mares descobertos.


Vasco da Game perante o Samorim de Calecute (Veloso Salgado; 1898)

D. João II não viveria para ver concretizado o seu plano tão desejado, expirando no Alvor a 25 de Outubro de 1495. Será ao seu cunhado e sucessor, D. Manuel I, que caberá o prosseguimento da epopeia marítima, que em breve o tornará um dos monarcas mais ricos e poderosos da Europa.


Uma década voltada sobre a travessia do Cabo da Boa Esperança seria armada uma nova esquadra de exploração, com cartas do rei recém-investido para os governantes dos reinos a visitar e com padrões para colocar nas terras descobertas. A capitania desta nova frota será atribuída a Vasco da Gama, que tinha apenas dez anos à data da gesta de Bartolomeu Dias. A única fonte em primeira mão para a viagem foi redigida por um tripulante anónimo, o Roteiro da primeira viagem de Vasco da Gama à Índia, atribuído a Álvaro Velho ou a João de Sá.

Moeda de escudo comemorativa do Caminho Marítimo para a Índia (1998)


A 7 de Julho de 1497 largava de Belém a esquadra sob o comando de Vasco da Gama, que se propõe a alcançar por mar o subcontinente indiano, composta por quatro embarcações: as naus São Rafael e São Gabriel, a caravela Bérrio e ainda a São Miguel, uma nau para transporte de mantimentos. A frota ruma a Cabo Verde, onde faz aguada, após a qual segue para sueste. É pelas alturas da Serra Leoa que iniciam a volta do mar largo, descrevendo um arco pronunciado ao longo do Atlântico Sul até reencontrar a costa africana na latitude do Cabo da Boa Esperança. Com esta manobra, Vasco da Gama evita a zona central de calmaria, tirando proveito do conhecimento dos ventos e correntes favoráveis.


A chegada de Vasco da Gama a Calicute em 1498 (Roque Gameiro, c. 1900)

A costa africana é avistada após três meses de árdua provação no alto mar, facto inaudito até então, e finalmente aportam numa baía, ao qual chamariam de Angra de Santa Helena. O Cabo é finalmente transposto a 22 de Novembro, com nova paragem no local que designam Angra de São Brás, onde é destruída a nau São Miguel.


No principiar do novo ano já estavam em Quelimane, onde reúnem informações auspiciosas sobre comércio e sobre a presença árabe nesta região, à qual por essa razão dão o nome de Rio dos Bons Sinais. Após escalas em Moçambique e Mombaça, recrutam em Melinde um piloto local que conduz a esquadra até Calecute, que alcançam a 20 de Maio de 1497, cumprindo-se o Caminho Marítimo para a Índia. As difíceis negociações com o Samorim de Calecute, que não resultam em qualquer acordo, constituem um momento ímpar de encontro entre civilizações. Estava oficialmente aberta uma nova era na História do contacto entre povos e o início da globalização.



Luís Alves Carpinteiro | Cabo Não


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