"E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro—o que d'Ela receberei em muita mercê. Beijo as mãos de Vossa Alteza. Deste Porto Seguro, da vossa Ilha da Vera Cruz, hoje, sexta-feira, 1º de maio de 1500."
Pêro Vaz de Caminha lê a carta a enviar a D. Manuel |
Com uma prece ao rei D. Manuel I de que libertasse o seu genro Jorge de Osório, degredado na ilha de São Tomé por assalto e agressão, se despede Pêro Vaz de Caminha na carta que constitui a primeira descrição do Brasil. Quando os portugueses atingiram o nordeste do Brasil, julgaram tratar-se de uma ilha que nomearam Ilha da Vera Cruz ou Terra da Verdadeira Cruz.
Os treze navios, naus e caravelas com uma tripulação de mais de mil homens largaram de Lisboa em Março de 1500, sob o comando de Pedro Álvares Cabral, com a missão de mostrar o poderio naval do rei de Portugal ao Samorim de Calecute, visto que as negociações encetadas por Vasco da Gama tinha sido goradas. Era a maior esquadra expedida pelo rei de Portugal até então. Ao descreverem a volta do mar largo ao longo do Atlântico, a esquadra é empurrada por ventos fortes para o nordeste brasileiro, formalizando-se deste modo a descoberta oficial do Brasil a 22 de Abril de 1500.
Desembarque de Cabral em Porto Seguro |
No dia 24 de Abril, os portugueses acolheram um grupo de nativos na sua embarcação, episódio descrito na Carta de Pêro Vaz de Caminha. As diferenças culturais foram evidentes com os índios a não reconhecerem os animais que traziam consigo os navegadores. Foi-lhes oferecida comida e vinho, que recusaram. Cabral vestiu todas as vestes e adornos de capitão-mor para receber os índios, estes no entanto não o diferenciaram dos restantes tripulantes.
Moeda de escudo comemorativa da Descoberta do Brasil (1999) |
No domingo de pascoela 26 de abril de 1500, o frei Henrique de Coimbra deu a primeira missa em território brasileiro, que juntou marinheiros e indígenas curiosos com os forasteiros. Após este acto simbólico, a esquadra retomaria a sua missão original e ruma às Índias, no entanto um forte temporal, ao largo do Cabo da Boa Esperança, desbarata a frota, perdendo-se vários navios, entre eles a caravela comandada por Bartolomeu Dias, que morre no naufrágio.
"Ao domingo de Pascoela pela manhã, determinou o Capitão de ir ouvir missa e pregação naquele ilhéu. Mandou a todos os capitães que se aprestassem nos batéis e fossem com ele. E assim foi feito. Mandou naquele ilhéu armar um esperável, e dentro dele um altar mui bem corregido. E ali com todos nós outros fez dizer missa, a qual foi dita pelo padre frei Henrique, em voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos outros padres e sacerdotes, que todos eram ali. A qual missa, segundo meu parecer, foi ouvida por todos com muito prazer e devoção."
A Primeira Missa no Brasil |
Existem diversas conjecturas que desafiam esta versão oficial da Descoberta do Brasil. A mais famosa das quais, a de uma expedição secreta de Duarte Pacheco Pereira em 1498, que teria visado identificar os territórios pertencentes a Portugal na sequência do Tratado de Tordesilhas, quatro anos antes. A hipotética viagem é descrita de forma ambígua no relato do navegador em Esmeraldo de Situ Orbis, de 1505, onde refere textualmente que o rei de Portugal o "mandou descobrir a parte ocidental", no entanto não é claro se se refere ao Brasil ou à América do Norte, já reconhecidamente explorada pelos portugueses nos anos anteriores.
Luís Alves Carpinteiro | Cabo Não
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