São referidos como os Cem Dias (Cent Jours, em francês) os cem dias de governo desde o retorno de Napoleão Bonaparte do exílio em Elba (20 de Março 1815) até à restauração ao trono de Luís XVIII (8 de Julho 1815). O termo foi cunhado pelo perfeito de Paris Gaspard de Chabrol, no seu discurso de graças ao reinvestimento do rei bourbon.
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Detalhe da pintura "Napoleão atravessa os Alpes", por J. L. David (1800) |
Exílio em Elba e regresso a França
Napoleão passa nove meses na ilha de Elba durante os quais assiste impotente às deliberações do Congresso de Viena. Alimenta a esperança de que as imposições violentas dos plenipotenciários, como a dissolução do Império ou a desmobilização da Grande Armée, semeiem a revolta entre o povo francês. As negociações decorriam de forma atribulada, com as potências a discordarem quanto à divisão dos territórios, chegando ao ponto de se temer novo conflito, desta vez entre as nações aliadas. Os russos e os austríacos alimentam uma disputa tão acesa pela Polónia que o czar Alexandre desafia Metternich para um duelo e este só é impedido pela interferência do imperador.
O astuto corso saberá exactamente como tirar vantagem da situação. No dia 26 de Fevereiro (1815) aproveitará a ausência dos militares ingleses para embarcar com uma guarnição no brigue Inconstant. Dirigir-se-ão a Cannes de onde iniciam marcha sobre Paris, sendo recebidos à passagem por populações em júbilo. Ao terem notícia do regresso do seu general, vários militares lhe acorrem engrossando as suas fileiras. Uma descrição semi-lendária atesta o carisma formidável de Napoleão: Quando tropas afectas à causa real interceptam os homens de Napoleão, este enfrenta-as e abrindo o seu gibão para expor o peito, exclama dramaticamente "Se algum de vós quiser disparar sobre o seu imperador, eis-me aqui!". Os realistas, emocionados com aquela atitude, trocam de lado e juntam-se a Napoleão!
A 20 de Março o exército bonapartista alcança Paris. À chegada as forças realistas oferecem pouca ou nenhuma resistência e muitos desertam para se aliar a Bonaparte. O monarca Luís XVIII há uma semana que se encontrava em fuga. Efectuaria uma paragem em Lille antes de cruzar a fronteira franco-belga para se exilar em Gante.
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"Napoleão regressa de Elba" por Charles de Steuben (1818) |
Campanha de Waterloo
Os plenipotenciários de Viena tinham reagido ao retorno de Napoleão declarando-o como usurpador do trono e tornando assim possível matá-lo sem quaisquer consequências legais. As forças da coligação anti-napoleónica não tardam a movimentar-se para fazer face ao ressurgimento da ameaça. Se Napoleão alguma vez nutrira esperança de paz, ela estava agora distante e o era confronto inevitável: Grã-Bretanha, Rússia, Prússia e Áustria fazem planos para a invasão conjunta de França.
A ofensiva, que começa no dia 1 de Junho de 1815, levará um exército em vasta superioridade numérica às fronteiras francesas. A campanha de 1812 nos Estados Unidos que opusera os britânicos à sua antiga colónia provocara a dispersão das suas forças e este é um trunfo que Napoleão não se pode dar ao luxo de desperdiçar. O general sabe que não há tempo a perder e opta por lançar um ataque preventivo antes que as tropas inimigas possam reagrupar.
A Campanha de Waterloo foi travada entre a Armée du Nord e dois exércitos da coligação: um anglo-aliado encabeçado pelo Duque de Wellington e outro prussiano comandado pelo Príncipe Blücher. As hostilidades começam no dia 15 de Junho quando as tropas bonapartistas atravessam o rio Sambre, perto de Charleroi. O plano é ocupar o espaço entre os dois acantonamentos militares e aproveitar a brecha para os atacar separadamente. Ney enfrentará Wellington na Batalha de Quatre Bras e Napoleão enfrentará o prussiano Blücher na Batalha de Ligny. O saldo dos confrontos revelar-se-á favorável para os franceses com Ney a suster Wellington e Napoleão a derrotar os prussianos. A estrela cintilava ainda nesta que seria a última vitória militar de Napoleão.
A vitória auspiciosa estará na origem de um erro estratégico fatal. Assim que teve conhecimento da derrota dos aliados, Wellington iniciou uma manobra de retirada em direcção a Bruxelas. Imediatamente Napoleão deixa a sua ala nas mãos de Grouchy e assume a vanguarda que se lança no encalce de Wellington. O campo de batalha onde Napoleão e o seu adversário se irão enfrentar será Waterloo.
A Batalha de Waterloo, decorrida a 18 de Junho de 1815, poria fim a 20 anos de guerra quase ininterrupta na Europa. Embora os corpos militares de Wellington e Napoleão se tenham anulado durante largo tempo, com os tropas coligadas a aguentarem sucessivas acometidas dos franceses, a chegada de forças prussianas que Grouchy não conseguira conter acabarão por desequilibrar a balança a favor de Wellington. A estrela de Napoleão fenecia: o seu ocaso dar-se-á nos meses seguintes.
A Queda
Derrotado, Napoleão abandona o exército e regressa a Paris. Em 22 de Junho será forçado a abdicar pela segunda vez, simbolicamente, fá-lo-ia a favor do filho Napoleão Francisco, Rei de Roma.
É formado um governo provisório encabeçado por Joseph Fouché. Este determina que Napoleão abandone Paris, retirando-se este para o antigo palácio de Joséphine em Malmaison. Será a sua última residência em França. Perante a aproximação de tropas prussianas com ordens de o capturar vivo ou morto, dirige-se para Rochefort fazendo tenções de embarcar e atingir a América.
Porém os seus planos são frustrados quando é interceptado nas malhas do bloqueio marítimo estabelecido por Sir Henry Hotham. Os marinheiros britânicos estavam alertados para a possibilidade de fuga de Napoleão e foi o capitão Maitland que intuiu que este tentaria Rocheford. Maitland captura o general francês que é levado a bordo do HMS Bellerophon para assinar a sua rendição.
Feito prisioneiro, será transportado até a Grã-Bretanha de onde segue para o exílio na ilha de Santa Helena, uma possessão britânica no Atlântico sul. Acabava assim a história do homem que passou como uma estrela cadente no firmamento político da Europa. Despido do poder e glória, ostracizado numa ilha erma e remota, viria a morrer prematuramente seis anos mais tarde.
A Convenção de St. Cloud decreta a capitulação de Paris e a rendição dos exércitos napoleónicos. No dia 7 de Julho os dois exércitos da coligação entram triunfalmente em Paris. No dia seguinte Luís XVIII é reconduzido ao trono, restaurando-se o absolutismo num epílogo da Revolução Francesa.
A queda de Napoleão marcou o fim de dois decénios de Guerras Napoleónicas e deu início ao denominado Concerto da Europa, um ambiente político resultante da ordem continental saída do Congresso de Viena, que só será interrompido em 1914 com o eclodir da Primeira Guerra Mundial.
Os plenipotenciários de Viena tinham reagido ao retorno de Napoleão declarando-o como usurpador do trono e tornando assim possível matá-lo sem quaisquer consequências legais. As forças da coligação anti-napoleónica não tardam a movimentar-se para fazer face ao ressurgimento da ameaça. Se Napoleão alguma vez nutrira esperança de paz, ela estava agora distante e o era confronto inevitável: Grã-Bretanha, Rússia, Prússia e Áustria fazem planos para a invasão conjunta de França.
A ofensiva, que começa no dia 1 de Junho de 1815, levará um exército em vasta superioridade numérica às fronteiras francesas. A campanha de 1812 nos Estados Unidos que opusera os britânicos à sua antiga colónia provocara a dispersão das suas forças e este é um trunfo que Napoleão não se pode dar ao luxo de desperdiçar. O general sabe que não há tempo a perder e opta por lançar um ataque preventivo antes que as tropas inimigas possam reagrupar.
A Campanha de Waterloo foi travada entre a Armée du Nord e dois exércitos da coligação: um anglo-aliado encabeçado pelo Duque de Wellington e outro prussiano comandado pelo Príncipe Blücher. As hostilidades começam no dia 15 de Junho quando as tropas bonapartistas atravessam o rio Sambre, perto de Charleroi. O plano é ocupar o espaço entre os dois acantonamentos militares e aproveitar a brecha para os atacar separadamente. Ney enfrentará Wellington na Batalha de Quatre Bras e Napoleão enfrentará o prussiano Blücher na Batalha de Ligny. O saldo dos confrontos revelar-se-á favorável para os franceses com Ney a suster Wellington e Napoleão a derrotar os prussianos. A estrela cintilava ainda nesta que seria a última vitória militar de Napoleão.
A vitória auspiciosa estará na origem de um erro estratégico fatal. Assim que teve conhecimento da derrota dos aliados, Wellington iniciou uma manobra de retirada em direcção a Bruxelas. Imediatamente Napoleão deixa a sua ala nas mãos de Grouchy e assume a vanguarda que se lança no encalce de Wellington. O campo de batalha onde Napoleão e o seu adversário se irão enfrentar será Waterloo.
A Batalha de Waterloo, decorrida a 18 de Junho de 1815, poria fim a 20 anos de guerra quase ininterrupta na Europa. Embora os corpos militares de Wellington e Napoleão se tenham anulado durante largo tempo, com os tropas coligadas a aguentarem sucessivas acometidas dos franceses, a chegada de forças prussianas que Grouchy não conseguira conter acabarão por desequilibrar a balança a favor de Wellington. A estrela de Napoleão fenecia: o seu ocaso dar-se-á nos meses seguintes.
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"Hillingford’s iconic painting depicts the Duke of Wellington as a dynamic figure as he rallies his men between French cavalry charges." |
A Queda
Derrotado, Napoleão abandona o exército e regressa a Paris. Em 22 de Junho será forçado a abdicar pela segunda vez, simbolicamente, fá-lo-ia a favor do filho Napoleão Francisco, Rei de Roma.
É formado um governo provisório encabeçado por Joseph Fouché. Este determina que Napoleão abandone Paris, retirando-se este para o antigo palácio de Joséphine em Malmaison. Será a sua última residência em França. Perante a aproximação de tropas prussianas com ordens de o capturar vivo ou morto, dirige-se para Rochefort fazendo tenções de embarcar e atingir a América.
Porém os seus planos são frustrados quando é interceptado nas malhas do bloqueio marítimo estabelecido por Sir Henry Hotham. Os marinheiros britânicos estavam alertados para a possibilidade de fuga de Napoleão e foi o capitão Maitland que intuiu que este tentaria Rocheford. Maitland captura o general francês que é levado a bordo do HMS Bellerophon para assinar a sua rendição.
Feito prisioneiro, será transportado até a Grã-Bretanha de onde segue para o exílio na ilha de Santa Helena, uma possessão britânica no Atlântico sul. Acabava assim a história do homem que passou como uma estrela cadente no firmamento político da Europa. Despido do poder e glória, ostracizado numa ilha erma e remota, viria a morrer prematuramente seis anos mais tarde.
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"Napoleão a bordo do Bellerophon" por Sir William Quiller Orchardson (c. 1880) |
A Convenção de St. Cloud decreta a capitulação de Paris e a rendição dos exércitos napoleónicos. No dia 7 de Julho os dois exércitos da coligação entram triunfalmente em Paris. No dia seguinte Luís XVIII é reconduzido ao trono, restaurando-se o absolutismo num epílogo da Revolução Francesa.
A queda de Napoleão marcou o fim de dois decénios de Guerras Napoleónicas e deu início ao denominado Concerto da Europa, um ambiente político resultante da ordem continental saída do Congresso de Viena, que só será interrompido em 1914 com o eclodir da Primeira Guerra Mundial.
Luís Alves Carpinteiro | Cabo Não
Excelente sula de história !
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