Segundo Ovídio, a união incestuosa entre Fórcis e Ceto gerou as três Górgonas, criaturas monstruosas com os cabelos feitos de serpentes cuja mera visão transformava quem as contemplasse em pedra. A única mortal das irmãs era Medusa, que se distinguia pelos seus cabelos louros e para quem a maldição fora castigo divino por ter sido violada por Neptuno, no templo de Minerva. Medusa seria decapitada pelo herói Perseu, que a surpreendeu durante o sono e evitou ser petrificado ao contemplá-la através de um escudo mágico oferecido pelos deuses.
"Neptuno, senhor dos mares, violou Medusa no templo de Minerva. Para que não ficasse impune, ela transformou os cabelos da Górgona em horríveis serpentes." Metamorfoses de Ovídio
Perseu com a cabeça de Medusa de Benvenuto Cellini (1545-54) |
I. MEDUSA DE GIAN LORENZO BERNINI (c. 1638-1648)
Busto de Medusa de Bernini, Museus Capitolinos, Roma |
A Medusa foi um motivo clássico recuperado a partir do Alto Renascimento e que foi retratado por diversos artistas barrocos como Bernini, Caravaggio ou Peter Paul Rubens. A representação de Bernini difere das restantes: contrariamente às pinturas de Caravaggio ou Rubens, que representam a cabeça decepada no desenlace do confronto com Perseu, a escultura de Bernini mostra-nos uma Medusa viva e em plena transformação.
Nenhuma das tentativas anteriores tinha conseguido capturar a ambiguidade moral da Medusa: uma jovem górgona, descrita por vezes como bela, sobre a qual se abateu a terrível maldição de se transformar numa criatura monstruosa. Não podemos deixar de intuir que o autor se condescendeu pela árdua provação da jovem, indo para além da conceção literária e oferecendo-nos um retrato humanizado deste mito grego.
A humanidade da Medusa fica patente no seu estado de descontrolo emocional, com traços exagerados, como é apanágio do barroco. A sua expressão facial denota uma vívida inteligência: o semblante contorce-se num esgar de sofrimento e ansiedade, exacerbado pelas sobrancelhas desproporcionadas; a sua boca encontra-se entreaberta como se estivesse para chorar, é quase possível imaginar os lábios a tremer.
Especula-se que a inspiração por detrás da escultura de Bernini possa ter sido uma ode do poeta grego Píndaro de cerca de 490 a. C. que descrevia a beleza e aparência física da Medusa antes da transformação.
II. OUTRAS REPRESENTAÇÕES
Cabeça de Medusa de Caravaggio (1597) |
Medusa de Peter Paul Rubens (c. 1618) |
O mito de que a Górgona Medusa é bela, além de não ser da Mitologia Grega nem da Cultura dos helenos é um contra senso, uma vez que Górgona é monstro (marinho), portanto, não pode ser bela; já nasceu Górgona, ou seja, nasceu monstro.
ResponderEliminarO poeta romano Ovídio cria um mito totalmente descabido, aliás como o é toda a hilária mitologia romana.
Obrigado por esclarecer! Não estava a par desta disparidade tão grande entre as fontes gregas e romanas (posteriores)
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