O reinado de D. João II ficou marcado pela centralização política e pelo fortalecimento da autoridade real, que em finais do século XV era uma tendência nas monarquias europeias. A "domesticação" da nobreza não se fez sem oposição e foram várias as conspirações contra monarca no início do reinado. Logo no discurso de abertura das Cortes de Évora de 1481, o rei português deu a entender que dali em diante, a figura real constituiria a autoridade máxima e que apesar de todos os privilégios atribuídos à nobreza pelo seu antecessor D. Afonso V, esta devia-lhe respeito e obediência, sendo obrigada a pagar à Fazenda e a cumprir a lei do reino.
Habituados aos enormes benefícios oferecidos por D. Afonso V nos anos anteriores, vários nobres entenderam estas medidas como uma ameaça ao seu estatuto e começaram de imediato a planear conspirações, nas quais se envolveram figuras importantes da nobreza, como Fernando, duque de Bragança, e Diogo, duque de Viseu, irmão da rainha Dona Leonor e do futuro rei D. Manuel I.
Em finais de 1482, chegaram aos ouvidos de D. João II a realização de uma série de assembleias conspirativas em que já se apelava ao seu assassinato ou ao derrube do rei em conluio com Castela. Apesar de possuir estas informações, provenientes de espiões ao seu serviço na corte, D. João II resolveu não agir de imediato contra os seus inimigos por não deter as provas necessárias, ordenando apenas aos seus homens que vigiassem atentamente o principal conjurado, o duque de Bragança.
Foi preciso aguardar por uma prova concreta e esta surgiu na forma de uma cópia de uma carta escrita pelo duque de Bragança e destinada aos Reis Católicos, que continha um plano detalhado para a invasão de Portugal. Neste momento, D. João II decide agir e ordena a prisão do duque de Bragança, mandando iniciar de imediato um julgamento. O processo culminou na condenação à morte do duque de Bragança, que foi executado a 20 de Junho de 1483, na praça do Giraldo em Évora.
D. Fernando II, duque de Bragança (1430-1483) |
Apesar da brutalidade da reação do monarca a uma primeira tentativa falhada contra a sua pessoa, os nobres insistiram na conjura e reuniram-se em torno do duque de Viseu para planear o assassinato do rei. Por várias vezes, o rei valeu-se dos seus espiões para escapar a tentativas de assassinato e por várias vezes procurou demover o seu cunhado D. Diogo, demonstrando boa fé, ao perdoar a sua participação na conspiração que condenara à morte o duque de Bragança.
Apesar de todos os avisos e perdões, D. Diogo não lhe deu ouvidos. No ano seguinte, D. João II toma conhecimento de que o seu cunhado pretende assassiná-lo a si e ao seu filho. Não perde tempo e convoca-o ao Paço de Setúbal, onde se encontra a corte. Este episódio foi imortalizado por Garcia de Resende nas suas crónicas, segundo as quais ao chegar ao pé de D. Diogo o rei perguntou:
- Duque, que farias vós a quem vos quisera matar?- Matá-lo-ia- Pois o que vós em mim ordenáveis, em vós se cumprirá.
E ao dizer estas palavras, o rei apunhalou o duque de Viseu, que morreu na presença de toda a corte, incluindo da rainha Dona Leonor, sua irmã.
D. João II e o duque de Viseu (Ilustração de Martins Barata) |
Para além de matar o irmão da rainha, D. João II tratou também de esmagar todos aqueles que haviam estado envolvidos. Fidalgos que pertenciam à classe mais alta da nobreza foram esquartejados, outros que eram membros do clero passaram vários anos presos e os poucos que conseguiram fugir para Castela só regressariam a Portugal após a morte de D. João II.
A domesticação da nobreza era apenas o início para o Príncipe Perfeito D. João II, cujo grandioso legado de exploração marítima (com a dobra do Cabo da Boa Esperança em 1488) e façanhas diplomáticas (Tratado de Tordesilhas com os Reis Católicos em 1494), transformariam Portugal numa das maiores potências do século XV.
Vicente Pulido Valente
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