segunda-feira, 15 de março de 2021

A ASCENSÃO DO PRIMEIRO IMPERADOR


"Beware the Ides of March"

Neste dia em 44 a. C. Júlio César morria no chão do Senado Romano, assassinado com 23 facadas no seguimento de uma conspiração liderada por Marco Brutus e Cássio. A morte de César vai desencadear um processo bélico e político que culminará com a ascensão de Octávio César Augusto como único governante e com a fundação do Império Romano.


Reconstituição artística de Octávio César Augusto, pelo projeto Césares de Roma

O primeiro imperador nasceu em Roma a 23 de Setembro de 63 a. C. e deram-lhe o nome do pai biológico Caio Octávio (Gaius Octavius). Foi o fruto da união entre este senador romano e Ácia, sobrinha de Júlio César.

Em 46 a. C. Octávio acompanhou Júlio César numa campanha realizada na Hispânia onde adquiriu a primeira experiência militar da sua carreira. O bom desempenho de Octávio fez com que Júlio César o convidasse a desempenhar funções de comandante militar sénior numa expedição com destino à Pártia, agendada para inícios de 44 a. C. Octávio estava na Ilíria a preparar-se para a expedição quando recebeu de Roma a notícia do assassinato do seu tio-avô Júlio.

O jovem romano não perdeu tempo e regressou a Roma onde o informaram de que Júlio César o adoptara como filho e que lhe legara praticamente toda a sua fortuna. Ao receber tal honra do pai adoptivo, Octávio procurou de imediato vingar a sua morte e perseguir todos os que haviam estado envolvidos na conspiração.

Vercingetorix, líder dos gauleses, rende-se a Júlio César após a Batalha de Alésia (52 a. C.)

Numa fase inicial tenta selar com Marco António, um dos homens mais leais de César, uma aliança que lhe permitisse fortalecer a sua posição contra os inimigos do seu tio-avô. Esta proposta de aliança foi inicialmente recusada por Marco António, que temia a destruição da República com mais uma sangrenta guerra civil, tendo optado antes por amnistiar todos os envolvidos na conspiração.

Esta ação clemente de Marco António teve o efeito indesejado de trazer muitas das antigas legiões de Júlio César para o lado de Octávio, assim como vários senadores e antigos amigos de César que se juntaram à causa de Octávio. A contestação a Marco António subiu de tom no Senado, com vozes como a de Cícero a erguerem-se contra ele, levando-o mesmo a abandonar Roma com as suas legiões rumo à Gália. Com o caminho livre, Octávio decide avançar sobre Roma com as suas legiões e forçar o Senado a empossá-lo como Cônsul. O seu primeiro acto será declarar Brutus e Cássio, os traidores que assassinaram o seu pai adoptivo, como inimigos da República.

Apesar de legitimado pelo consulado, Octávio sabia que não podia enfrentar Brutus e Cássio devido à sua quase inexistente experiência na liderança de conflitos armados. É para colmatar esta fraqueza que se reúne com Marco António e Lépido para formar o Segundo Triunvirato, que pela primeira vez excluía totalmente o Senado do poder de Roma. Na sequência deste acordo, chovem proscrições que culminam com a execução de vários inimigos de César, incluindo Cícero que terá as suas mãos pregadas às portas do Senado. Esta purga permitirá a Marco António e Octávio perseguir Cássio e Brutus sem temer qualquer ameaça doméstica.

Segundo Triunvirato (43 a 33 a. C.)

A tarefa que Marco António e Octávio se propunham a realizar não se avizinhava fácil. Durante o período de impasse e de criação do novo triunvirato, Brutus e Cássio aproveitaram a demora para fortalecerem a sua posição e recrutar novas legiões nas províncias mais orientais do Império. Quando Marco António e Octávio chegam à Grécia, os seus inimigos possuem o considerável contingente de dezassete legiões, bem treinadas e equipadas. Em Outubro de 42 a. C. os dois exércitos chocam em Filipos, e após uma encarniçada luta de várias horas Marco António e Octávio levam a melhor. Derrotados, Brutus e Cássio suicidam-se para evitar a captura.

Os vencedores de Filipos regressam a Roma e estabelecem novo acordo, afastando Lépido e pondo um fim abrupto ao Segundo Triunvirato. O Império é dividido em dois, ficando António com o Oriente e Octávio com o Ocidente. Esta repartição permitirá a Octávio a glória de combater e destruir por completo a pirataria de Sexto Pompeu, o último filho vivo de Cneu Pompeu, general derrotado por Júlio César numa guerra civil pelo poder supremo de Roma. A vitória é celebrada com um triunfo através das ruas que lança a multidão romana numa apoteose e aumenta ainda mais a sua popularidade.

O crescimento do poder e da celebridade de Octávio precipitaram o fim da parceria com Marco António que foi suplantada por uma acesa rivalidade. Entretanto, Marco António vivia no Egipto uma relação com a rainha Cleópatra, dizia-se, mais ao estilo de um monarca helenístico do que de um patrício romano. Naquele tempo, os monarcas orientais não eram bem vistos e Octávio aproveitou a situação para virar o Senado contra Marco António.

A situação de Marco António piorou quando Octávio se apossou do seu suposto testamento e o apresentou ao Senado, onde este pedia que na eventualidade da sua morte ocorrer em Itália, o seu corpo fosse enviado para o Egipto para ser sepultado junto de Cleópatra. A soma destes argumentos convenceram o Senado de que Marco António já não era romano e conduziram à sua declaração como inimigo de Roma.

Cleópatra VII Filópator, como imaginada em 1888 por John William Waterhouse


Com o estalar de nova guerra civil, Octávio partiu para enfrentar Marco António. O conflito culminaria na batalha naval de Áccio em 31 a. C., onde uma armada liderada por Agripa e Octávio desbaratou as forças lideradas por Marco António. Perante a derrota, Marco António e Cleópatra cometem suicídio.

Sem nenhum rival à sua altura, Octávio fundará o Império Romano em 27 a. C. Numa primeira etapa será mantida a aparência e o protocolo da República, rejeitando todos os títulos monárquicos e governa como "Primeiro Cidadão" (Princeps Civitatis). Este quadro constitucional de transição ficará conhecido como o Principado, a primeira fase do Império Romano.

A partir de 42 a. C. que Octávio instituíra o Culto do Divino Júlio, a veneração religiosa de Júlio César deificado, nomeando-se a ele próprio como "Filho do Divino" (Divi Filius). Com a submissão dos seus inimigos e consagração como líder supremo, assumir-se-á como Octávio César Augusto.




Vicente Pulido Valente


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