Na década de 1950 o pintor surrealista espanhol Salvador Dalí foi convidado a elaborar representações das Sete Maravilhas do Mundo Antigo para o documentário Seven Wonders of the World, a segunda película produzida por Hollywood no revolucionário formato Cinerama.
Apesar do filme ter chegado às salas de cinema norte-americanas em Abril de 1956, as ilustrações concebidas por Dalí nunca seriam usadas. Das Maravilhas do Mundo retratadas pelo pintor foi-nos possível encontrar todas com excepção dos Jardins Suspensos da Babilónia, para a qual seleccionámos uma imagem alternativa.
As Sete Maravilhas, como representadas por Maarten van Heemskerck |
AS SETE MARAVILHAS DO MUNDO ANTIGO
Desde a Antiguidade Clássica que diversos autores procuraram alcançar um consenso acerca das construções mais notáveis da História da Humanidade. Com ligeiras variações ao longo dos tempos, os monumentos contemplados foram: A Grande Pirâmide de Gizé, os Jardins Suspensos da Babilónia, o Colosso de Rodes, o Farol de Alexandria, o Templo de Artémis em Éfeso, a Estátua de Zeus em Olímpia e o Mausoléu de Halicarnasso.
Das construções originais apenas uma permanece relativamente intacta, curiosamente a mais antiga das sete, a Pirâmide de Queóps, mais conhecida como a Grande Pirâmide de Gizé. Todas as restantes foram destruídas, não raras vezes por acção da natureza, nomeadamente por sismos e outros desastres. Por outro lado, é controversa a localização, a aparência e até mesmo a existência dos Jardins Suspensos da Babilónia, miticamente atribuídos ao reinado de Nabucodonosor II.
FAROL DE ALEXANDRIA
O Farol de Alexandria, na ilha de Faros (actual Egipto), foi construído no século III a.C. e destruído por sucessivos terramotos até desaparecer por completo em 1480.
Após a morte de Alexandre, o Grande, fundador da cidade de Alexandria, em 323 a.C., sucedeu-lhe um seu general como Ptolomeu I, que iniciou a construção deste farol; caberia ao seu filho e sucessor, Ptolomeu II, concluir esta obra, que demorou 12 anos a completar.
De acordo com o relato semi-lendário, os habitantes da ilha de Faros tinham por hábito saquear artigos valiosos de navios naufragados. Para contrariar este fenómeno e também os naufrágios na região, nasce a necessidade de uma estrutura luminosa que guiasse os navios à noite.
Estima-se que teria cerca de 100 metros de altura, pelo que seria durante vários séculos uma das construções humanas mais altas do mundo. Ao farol sobreviveram numerosas descrições; entre elas os escritos árabes com base nos quais Salvador Dalí baseia a sua interpretação artística.
O Colosso de Rodes foi construído em 280 a. C. e destruído por um sismo em 226 a. C. Esta estátua do deus do Sol Hélio (patrono de Rodes) media cerca de 33 metros e saudava os visitantes na entrada do porto de Rodes. Concebido pelo escultor e arquitecto Carés de Lindos, tinha dos pés à coroa o tamanho aproximado da Estátua da Liberdade, tornando-a uma das estátuas mais altas do Mundo Antigo.
Foi erigida para celebrar a defesa contra a invasão de Demétrio I da Macedónia, no contexto do Cerco de Rodes (305-304 a. C.). Ao abandonar o cerco, os macedónios deixaram para trás a maioria do seu armamento, que foi aproveitado para a fundição da estátua.
Após a sua destruição, Ptolomeu III ofereceu-se para pagar uma reconstrução da estátua. No entanto, os habitantes de Rodes recusaram, visto que o Oráculo de Delfos interpretou o desmoronamento do Colosso como uma ofensa a Hélio, pelo que reconstruí-lo seria desrespeitoso ao deus.
Pouco mais é conhecido sobre esta Maravilha do Mundo Antigo, permanecendo sob disputa a sua localização exacta na ilha de Rodes. Existem contudo muitas referências literárias ao Colosso de Rodes, incluindo n'Os Lusíadas, onde Camões compara Adamastor a esta magnífica estátua.
ESTÁTUA DE ZEUS EM OLÍMPIA
Localizada no Templo de Zeus em Olímpia, esta estátua de 13 metros foi construída por volta de 435 a. C., tendo desaparecido no século V d. C. Foi esculpida por Fídias, célebre pela sua decoração do Partenon, em Atenas, a pedido do povo da cidade-estado de Eleia, de forma a complementar o templo recém-erigido. Segundo as descrições, era uma estátua ricamente adornada com ouro, marfim e variadas pedras preciosas, ocupando metade da altura do templo.
Fídias baseou o aspecto de Zeus de acordo com a descrição de Homero na Ilíada, e ao concluí-la rezou ao deus para que lhe desse um sinal que indicasse se a estátua estava a seu gosto. Segundo a lenda, caiu um relâmpago no chão do templo, onde colocaram um pote de bronze para cobrir o dano causado.
Existem duas teorias para o desaparecimento da estátua. Por um lado, a tradição aponta para que esta havia sido levada para Constantinopla, tendo sido destruída pelo grande incêndio do Palácio de Lauso em 475 d. C. Por outro lado, existe a crença de que, tendo o templo caído em desuso, a estátua permaneceu no seu local original até ser destruída por um incêndio em 425 d. C.
A aparência do monumento original é conservada até aos dias de hoje através de registos e moedas da altura, a partir dos quais Dalí retira a sua interpretação desta Maravilha do Mundo Antigo.
MAUSOLÉU DE HALICARNASSO
Esta Maravilha do Mundo Antigo estava situada em Halicarnasso, na actual Turquia. Foi construída no século IV a. C. como complexo funerário para o governador de Cária, Mausolo, e para a sua irmã e esposa, Artemísia II.
Encontrava-se numa colina sobre a cidade de Halicarnasso, sendo o principal monumento da mesma. O seu estatuto de maravilha não se devia às suas dimensões, mas sim à riqueza dos seus adornos e beleza da sua arquitectura, assumindo mais a aparência de um templo do que propriamente a de um túmulo.
Era uma obra impressionante, com cerca de 45 metros de altura, adornada com relevos de importantes escultores gregos - Leocares, Briáxis, Escopas de Paros e Timóteo. A estrutura foi desenhada pelos arquitectos Sátiro e Píteo de Priene. Do nome do sepultado, Mausolo, derivaria o termo "mausoléu", por eponímia.
O mausoléu foi destruído por sismos entre os séculos XII e XV, encontrando-se actualmente em ruínas. Muitos dos destroços foram utilizados na construção do Castelo de Bodrum, que teve início em 1402, mas as fundações originais do mausoléu ainda são visíveis no seu local original. Das estátuas que figuravam no conjunto, as sobreviventes encontram-se no British Museum.
TEMPLO DE ÁRTEMIS EM ÉFESO
O Templo de Ártemis, cujas origens remetem à Idade do Bronze, localizava-se na cidade de Éfeso, naquele que é actualmente território turco. O poeta Calímaco, no seu Hino a Ártemis, atribuía às Amazonas a edificação deste local de culto.
Após a sua destruição por cheias no século VII a. C., teria sido reedificado, adquirindo mais complexidade e grandiloquência. Esta reconstrução teve início em 550 a. C. e foi levada a cabo pelo arquitecto Quersifrão e pelo seu filho Metágenes, demorando cerca de uma década a completar, atingindo uma altura de 13 metros.
Esta versão mais sofisticada do templo foi destruída em 356 a. C. por Heróstrato, que o terá incendiado. Na tradição grego-romana, esta destruição coincidiu com o nascimento de Alexandre, o Grande, que mais tarde se ofereceria para financiar a restauração do templo, embora os cidadãos de Éfeso tenham recusado. Mais tarde, já após a morte de Alexandre, estes acabariam por erigir novo templo, desta vez com 18 metros de altura e adornado com pinturas, ouro e prata e esculturas de Policleto, Fídias, Crésilas e Fradmon.
A segunda reconstrução do templo sobreviveu durante seis séculos. No século III d. C., o templo foi saqueado e parcialmente destruído pelos Godos, tendo sido novamente alvo de pilhagem ao longo dos séculos seguintes, sendo que algumas das colunas da Hagia Sophia pertenciam originalmente ao Templo de Ártemis. Deste, resta apenas uma coluna, que se encontra até ao dias de hoje no local.
GRANDE PIRÂMIDE DE GIZÉ
Esta ilustração de Dalí, a única posterior ao lançamento do documentário Seven Wonders of the World, leva-nos às areias do Antigo Egipto com as três Pirâmides de Gizé. A maior das quais, a denominada Pirâmide de Quéops, é a única das Sete Maravilhas do Mundo Antigo que resistiu ao teste do tempo permanecendo parcialmente intacta até aos nossos dias.
Esta pirâmide está inserida no conjunto da Necrópole de Gizé e remete ao reinado do faraó Quéops (2589-2566 a. C.), cujo túmulo se encontra na pirâmide homónima. Dentro da pirâmide encontram-se três câmaras conhecidas: inferiormente, uma câmara inacabada, escavada no solo, e superiormente duas câmaras conhecidas como "Câmara do Rei" e "Câmara da Rainha". Acredita-se que Hemiunu, vizir e parente de Quéops, foi o arquitecto responsável por muitas obras reais, entre as quais esta pirâmide.
Estima-se que a Pirâmide de Quéops tenha sido construída entre 2580 e 2560 a. C. e tem 146 metros de altura, logo é não só a mais antiga como também a maior das Maravilhas do Mundo Antigo. A pirâmide estaria coberta de pedra polida, que permitia reflectir a luz solar; este revestimento foi quase todo perdido e actualmente observa-se apenas o núcleo de pedra da pirâmide, que é sobretudo constituído por calcário. Porém, a base da pirâmide ainda apresenta reminiscências da sua cobertura original.
JARDINS SUSPENSOS DA BABILÓNIA
Os Jardins Suspensos, como representadas por Maarten van Heemskerck |
A única das Sete Maravilhas cuja ilustração de Dalí não nos foi possível encontrar, os Jardins Suspensos da Babilónia, são também a única das Maravilhas da qual não se conservam vestígios arqueológicos ou descrições fidedignas, suscitando mesmo dúvidas em relação à sua existência. A aparência, dimensões e localização dos jardins têm igualmente gerado debate, existindo diversas teorias contraditórias que adensam a aura de mistério e estatuto mítico desta Maravilha.
De acordo com o relato de Beroso (séc. III a. C.), a obra remete ao reinado de
Nabucodonosor II, que dedicou a construção à sua esposa Amyitis, não existindo contudo qualquer outro registo que o contradiga ou confirme. Existe no entanto documentação detalhada acerca dos jardins que o rei assírio Senaqueribe mandou plantar nas margens do rio Tigre, na sua capital Nínive. Tem sido sugerido que Beroso terá atribuído os jardins a Nabucodonosor II e trocado a sua localização por razões políticas.
Estes exóticos jardins teriam sido cultivados com o intuito de decorar e não de produzir comida, algo incomum para a época. A ideia da jardinagem como actividade lúdica espalhou-se desde o Crescente Fértil até ao Mediterrâneo, onde diversos povos adoptaram a prática de jardinagem.
Os Jardins Suspensos da Babilónia foram o molde para os jardins que se seguiram, como apogeu da arte de jardinar que englobava engenharia, arquitectura e botânica de forma harmoniosa e estética. Segundo as descrições, estes jardins tinham terraços semelhantes a montanhas, com uma grande variedade de espécies neles cultivados e com sistemas de escoamento de águas que permitiam regar os vários níveis de vegetação, conferindo-lhes assim uma aparência singular.
Os Jardins Suspensos da Babilónia foram o molde para os jardins que se seguiram, como apogeu da arte de jardinar que englobava engenharia, arquitectura e botânica de forma harmoniosa e estética. Segundo as descrições, estes jardins tinham terraços semelhantes a montanhas, com uma grande variedade de espécies neles cultivados e com sistemas de escoamento de águas que permitiam regar os vários níveis de vegetação, conferindo-lhes assim uma aparência singular.
LAC e BFF
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