quarta-feira, 24 de junho de 2020

O CAVALEIRO, A MORTE E O DIABO




Esta gravura foi concebida em 1513 pela mais eminente figura do Renascimento alemão, Albrecht Dürer. Em conjunto com "S. Jerónimo no estúdio" e "Melancolia I", é vulgarmente considerada uma das três Meisterstiche (gravuras principais) de Dürer, desenvolvidas pelo artista num dos períodos mais profícuos da sua carreira, entre 1513 e 1514.

Na ilustração podemos observar um cavaleiro medieval envergando armadura completa, que percorre a floresta acompanhado pelo seu cão. Em toda a sua volta, emergem criaturas tenebrosas: um Diabo com cabeça de bode e uma alegoria da Morte, montada no seu cavalo pálido. A Morte, com a sua coroa de serpentes, é uma entidade mórbida cujo corpo se decompõe; exibe nas suas mãos a ampulheta, símbolo iconográfico do passar do tempo e da efemeridade da vida humana.

No centro da cena, não fazendo caso dos perigos que o rodeiam, surge a figura do Cavaleiro, determinado e imperturbável no seu caminho, sendo por isso interpretado como uma encarnação da Coragem, bem como do ideal cavaleiresco da Idade Média e da luta interior pelo Reino dos Céus. 

É uma obra plena de simbolismos, cuja iconografia tem intrigado estudiosos praticamente desde a sua criação. Georgio Vasari, o insigne biógrafo dos pintores renascentistas, referindo-se à obra de Dürer e a esta gravura em particular considerou-a uma das "várias folhas de tal excelência que nada de melhor pode ser atingido".

Ao longo dos séculos, o Cavaleiro de Dürer tornou-se parte do imaginário popular e suscitou diversas menções e homenagens, entre as quais este soneto do poeta argentino Jorge Luis Borges, que aqui vos deixo a versão traduzida para português:




"Ritter, Tod und Teufel" por Jorge Luis Borges


Sob o elmo quimérico o severo
perfil é cruel como a cruel espada
que aguarda. Pela floresta despojada
cavalga imperturbável o cavaleiro.

Torpe e furtiva, a caterva obscena
tem-no cercado: o Demónio de servis
olhos, os labirínticos reptéis
e o branco ancião da ampulheta.

Cavaleiro de ferro, quem te olha
sabe que em ti não mora a mentira
nem o pálido temor. O teu destino árduo

é mandar e ultrajar: És valente
e não serás indigno certamente,
alemão, do Demónio e da Morte.



(Traduzido do original espanhol)



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