quarta-feira, 3 de junho de 2020

A TOMADA DE SANTARÉM, POR ROQUE GAMEIRO


A conquista de Santarém, como ilustrada na obra Quadros da História de Portugal (1917)


"Já Afonso Henriques firmara em Leiria o seu poder e o sonho de dilatar os seus domínios para o sul tentava-o imensamente. No caminho de Lisboa e Santarém seria um formidável progresso mas a vila era difícil acometer, quási enexpugnável.

Contudo, nos princípios de 1147, Afonso Henriques mandou de Coimbra Mem Ramires para estudar a topografia de Santarém e o sítio onde as muralhas permitiriam mais facilmente o assalto. Depois, a 2 de Março partiu de Coimbra, avançou até Pernes e fez intimar os mouros de Santarém de que ficavam rôtas as tréguas que com êles tinha celebrado. 
Essa intimacão era um ardil: fatalmente os mouros rodobrando de vigilância durante êsses três dias descuidar-se-iam depois; e Afonso Henriques dispunha-se a aproveitar êsse descuido para o assalto.

Finalmente, na noite de 14 de Março, um trôço de 120 homens dos mais denodados, munidos de dez escadas de mão dirigidos por Mem Ramires e acompanhados pelo rei aproximaram-se do lanço do muro escolhido para a escalada. Julgavam que êsse sítio não estaria guardado; mas enganaram-se, e êste primeiro desalento logo foi agravado ao reconhecerem que as escadas eram curtas e não poderiam alcançar as ameias.

Valeu-lhes a casa de um oleiro construída junto à muralha; do telhado dessa casa Mem Ramires pôde erguer uma das escadas e logo trepar por ela à frente dos mais bravos. Debalde as sentinelas tentam gritar: «Nazarenos!»; as últimas sílabas morrem-lhes nas gargantas trespassadas - e logo os cristãos vão abrir a porta mais próxima ao audacioso Afonso Henriques."



por Chagas Franco e João Soares no Folheto explicativo dos Quadros da História de Portugal


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