Ao longo da segunda metade do século XX, a Irlanda do Norte foi o campo de batalha onde se travou uma autêntica guerra civil de baixa intensidade, com as tensões religiosas entre as comunidades católica e protestante à flor da pele. Um conflito interno opôs os unionistas protestantes aos reintegralistas católicos que contestavam o estatuto constitucional do território irlandês ainda sob tutela de Londres.
A Irlanda do Norte, separada do resto da Irlanda desde 1922, detém uma larga percentagem de população protestante descendente dos colonos escoceses e ingleses que chegaram à região no século XVII. Os colonos assentaram-se no norte, que denominaram de Ulster, e trouxeram consigo a cultura, a língua, as leis e a religião inglesa. A população católica foi marginalizada e perdeu sucessivamente privilégios perante a cada vez mais poderosa comunidade protestante.
1. Bairro católico de Derry, referido como "Free Derry", uma "no-go area" para protestantes e militares |
O centro do conflito é a capital Belfast, considerada no final do século XX a "capital do terrorismo da Europa". As famílias católicas eram alvo de ataques e de exclusão social, lutando para se sustentar numa economia dominada pela elite protestante. Na década de 60 ocorrem protestos pacíficos para a obtenção de direitos plenos para os cidadãos
católicos, que exigiam o fim da descriminação laboral, a
reforma da Royal Ulster Constabulary e representação política para os seus membros
no Parlamento Britânico.
A violência política atingiu o seu paroxismo durante década de 1970. O Exército
Britânico foi requisitado para patrulhar o território, assumindo múltiplas
funções da polícia local. Durante a década de 1980 e 1990
o IRA (Irish Republican Army) e os grupos protestantes como o UVF (Ulster Volunteer Force) digladiaram-se numa guerra de atrito que vitimou essencialmente populações civis, com ambos os lados a recorrerem ao terrorismo e à bomba como meio de espalhar o terror nas hostes contrárias. Foram efectuadas tentativas de negociar um cessar-fogo
permanente, porém a condição de separar a Irlanda do Norte do Reino Unido fora
sempre um empecilho para o término do conflito.
2. Tropas britânicas tentam apaziguar um motim em Belfast no rescaldo da morte de Sands (05/05/1981) |
Um jovem de Newtownabbey torna-se-á o mártir da causa católica. Bobby Sands desde cedo sentiu à flor da pele o ódio religioso da sociedade irlandesa e decide aderir ao movimento paramilitar PIRA (Provisional Irish Rebublican Army). As actividades terroristas deste grupo envolveram o ataque à bomba de locais frequentados por protestantes e a luta armada contra as
forças de “ocupação britânica”. No ano de 1977 Sands é detido e condenado a 14 anos de
prisão pela posse de um revólver utilizado num ataque às forças policiais.
É na prisão de Maze em 1981 que Bobby Sands lidera um protesto de greve de fome após lhe ser recusado e aos
seus companheiros o estatuto de prisioneiros políticos. Após 66 dias sem comer, Bobby
Sands morre aos 27 anos, galvanizando o movimento republicano e presidiário.
A resposta internacional à morte de Sands, permite a progressão política de movimentos como o Anti H-Block e Sinn Féin que obtêm novos membros no Parlamento Britânico e a eleição póstuma de Bobby
Sands ao parlamento como representante da região de Fermanagh and South Tyrone.
3. Manifestações de apoio a Bobby Sands em Lisboa (06/05/1981) |
A 10 de Abril de 1998 é finalmente assinado o Good Friday Agreement que põe termo à violência entre grupos paramilitares na Irlanda do Norte. O conflito interno seria pacificado e uma frente unitária formada dos partidos unionista e
republicano para representar os direitos de todos os cidadãos da Irlanda do Norte no Parlamento Britânico, independentemente de confissão religiosa.
O saldo final do conflito interno é a morte de 3 532 pessoas, incalculáveis feridos e perdas materiais. Presentemente, embora as tensões religiosas tenham atingido um mínimo histórico, ainda se verificam actos de violência e de provocação entre membros das duas comunidades
O saldo final do conflito interno é a morte de 3 532 pessoas, incalculáveis feridos e perdas materiais. Presentemente, embora as tensões religiosas tenham atingido um mínimo histórico, ainda se verificam actos de violência e de provocação entre membros das duas comunidades
FAC
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