No dia 28 de Junho de 1914 o herdeiro do trono imperial austríaco Francisco Fernando é assassinado pelo anarquista bósnio-sérvio Gravilo Princip, em Sarajevo. A recusa sérvia do Ultimato de Julho vai justificar a declaração de guerra da Áustria-Hungria. O que começara como uma crise diplomática rapidamente escala para um conflito de dimensão europeia quando a Rússia, a Alemanha, a França, a Inglaterra e o Império Otomano se envolvem. Os eventos que conduziram ao eclodir da Primeira Guerra Mundial são extensamente debatidos mas não tanto o clima político da região balcânica onde esta foi gerada.
"One day the great European War will come out of some damn foolish thing in the Balkans" Otto von Bismarck, 1888.
No âmago das possessões europeias de um Império Otomano em
franca decadência, vão florescer novas consciências nacionais e movimentos
independentistas. Ao pressentir o eminente colapso do “homem doente da Europa” (expressão de Nicolau I da Rússia para descrever o Império Otomano) várias
potências vão incitar os esforços nacionalistas balcânicos embora com motivações diferentes. Como poderes regionais, Rússia e a Áustria-Hungria estão
juntos no desiderato de destruir de uma vez por todas o domínio dos otomanos
nos Balcãs. O recém-formado Império Alemão e principalmente o Império Britânico, cujos interesses
na Ásia competem com os russos, vão discretamente colocar-se do lado
austro-húngaro de modo a evitar a expansão russa para o Mediterrâneo e Mar
Negro.
A Grécia é a primeira nação insurgente a conquistar a sua
independência em 1829. No último quartel do século os sérvios, os montenegrinos, os romenos e os
búlgaros vão seguir-lhe os passos. Em 1908 o Império Austro-húngaro vai gorar
as pretensões dos nacionalistas sérvios sobre a orla do Adriático ao anexar a
Bósnia-Herzegovina. Das antigas possessões otomanas apenas a Albânia e a Macedónia
permanecem debaixo do seu domínio.
A conquista de Tripoli na Líbia pelos italianos em 1912
deixa a descoberto a vulnerabilidade dos otomanos. Apesar das independências,
vastos contingentes de população eslava permanecem dentro dos limites das fronteiras
otomanas o que vai levar a Sérvia, Bulgária, Montenegro e a Roménia a
agruparem-se em armas na Liga Balcânica com o intuito de reclamar os remanescentes
territórios otomanos. Segue-se a Primeira Guerra Balcânica na qual a coligação
balcânica vai derrotar os otomanos, libertando mais terras e populações eslavas.
Poster da época retratava a luta contra os otomanos como uma luta "contra a tirania" |
As negociações de paz terão lugar em Londres e geraram a
dissensão entre as jovens nações balcânicas quanto a distribuição dos espólios. No final de 1912 é constituído o principado independente da
Albânia com o incentivo dos austro-húngaros que pretendiam evitar a todo o
custo a expansão sérvia para o Adriático.
Os sérvios e os gregos vão repudiar a repartição acordada
nos tratados pré-guerra e vão combinar à revelia da Bulgária recusar
evacuar os territórios conquistados pelas suas forças armadas. A Bulgária não
vai tolerar a quebra do acordo que lhe garantia a maior parte da
Macedónia e vai atacar os antigos aliados. No entanto as forças combinados dos gregos e dos sérvios em superioridade numérica vão repelir a ofensiva e contra-atacar para território búlgaro.
A guerra vai terminar como o armistício do Tratado de Bucareste
em que a Roménia e a Sérvia aumentam os seus territórios à custa da Bulgária. É alcançado igualmente um acordo em relação à Macedónia que vai ser retalhada entre as nações balcânicas.
O Império Austro-Húngaro está alarmado com emergência de uma
Sérvia apoiada pela Rússia como poder regional. Receia particularmente o efeito
que uma implementação forte da Sérvia nos Balcãs possa ter nas suas próprias
populações eslavas. Esta preocupação é partilhada pelo Império Alemão que via o
estado sérvio como um satélite da Rússia. A guerra cujos oponentes já estavam reunidos seria deflagrada pelo fatídico assassinato do arquiduque Francisco Fernando em Sarajevo, com terríveis consequências para o continente Europeu.
Luís Alves Carpinteiro | Cabo Não
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