quarta-feira, 13 de junho de 2018

PRELÚDIO DA GRANDE GUERRA - OS BALCÃS


Capa do Petit Journal alusiva à "Questão Oriental" 
As Guerras dos Balcãs (1912-1913)


No dia 28 de Junho de 1914 o herdeiro do trono imperial austríaco Francisco Fernando é assassinado pelo anarquista bósnio-sérvio Gravilo Princip, em Sarajevo. A recusa sérvia do Ultimato de Julho vai justificar a declaração de guerra da Áustria-Hungria. O que começara como uma crise diplomática rapidamente escala para um conflito de dimensão europeia quando a Rússia, a Alemanha, a França, a Inglaterra e o Império Otomano se envolvem. Os eventos que conduziram ao eclodir da Primeira Guerra Mundial são extensamente debatidos mas não tanto o clima político da região balcânica onde esta foi gerada.








"One day the great European War will come out of some damn foolish thing in the Balkans" Otto von Bismarck, 1888.


No âmago das possessões europeias de um Império Otomano em franca decadência, vão florescer novas consciências nacionais e movimentos independentistas. Ao pressentir o eminente colapso do “homem doente da Europa” (expressão de Nicolau I da Rússia para descrever o Império Otomano) várias potências vão incitar os esforços nacionalistas balcânicos embora com motivações diferentes. Como poderes regionais, Rússia e a Áustria-Hungria estão juntos no desiderato de destruir de uma vez por todas o domínio dos otomanos nos Balcãs. O recém-formado Império Alemão e principalmente o Império Britânico, cujos interesses na Ásia competem com os russos, vão discretamente colocar-se do lado austro-húngaro de modo a evitar a expansão russa para o Mediterrâneo e Mar Negro.

A Grécia é a primeira nação insurgente a conquistar a sua independência em 1829. No último quartel do século  os sérvios, os montenegrinos, os romenos e os búlgaros vão seguir-lhe os passos. Em 1908 o Império Austro-húngaro vai gorar as pretensões dos nacionalistas sérvios sobre a orla do Adriático ao anexar a Bósnia-Herzegovina. Das antigas possessões otomanas apenas a Albânia e a Macedónia permanecem debaixo do seu domínio.

A conquista de Tripoli na Líbia pelos italianos em 1912 deixa a descoberto a vulnerabilidade dos otomanos. Apesar das independências, vastos contingentes de população eslava permanecem dentro dos limites das fronteiras otomanas o que vai levar a Sérvia, Bulgária, Montenegro e a Roménia a agruparem-se em armas na Liga Balcânica com o intuito de reclamar os remanescentes territórios otomanos. Segue-se a Primeira Guerra Balcânica na qual a coligação balcânica vai derrotar os otomanos, libertando mais terras e populações eslavas.


Poster da época retratava a luta contra os otomanos como uma luta "contra a tirania"

As negociações de paz terão lugar em Londres e geraram a dissensão entre as jovens nações balcânicas quanto a distribuição dos espólios. No final de 1912 é constituído o principado independente da Albânia com o incentivo dos austro-húngaros que pretendiam evitar a todo o custo a expansão sérvia para o Adriático.

Os sérvios e os gregos vão repudiar a repartição acordada nos tratados pré-guerra e vão combinar à revelia da Bulgária recusar evacuar os territórios conquistados pelas suas forças armadas. A Bulgária não vai tolerar a quebra do acordo que lhe garantia a maior parte da Macedónia e vai atacar os antigos aliados. No entanto as forças combinados dos gregos e dos sérvios em superioridade numérica vão repelir a ofensiva e contra-atacar para território búlgaro.

A guerra vai terminar como o armistício do Tratado de Bucareste em que a Roménia e a Sérvia aumentam os seus territórios à custa da Bulgária. É alcançado igualmente um acordo em relação à Macedónia que vai ser retalhada entre as nações balcânicas.

O Império Austro-Húngaro está alarmado com emergência de uma Sérvia apoiada pela Rússia como poder regional. Receia particularmente o efeito que uma implementação forte da Sérvia nos Balcãs possa ter nas suas próprias populações eslavas. Esta preocupação é partilhada pelo Império Alemão que via o estado sérvio como um satélite da Rússia. A guerra cujos oponentes já estavam reunidos seria deflagrada pelo fatídico assassinato do arquiduque Francisco Fernando em Sarajevo, com terríveis consequências para o continente Europeu.


Luís Alves Carpinteiro | Cabo Não

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