segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

A GUERRA DO YOM KIPPUR E O EMBARGO DA OPEP


A 6 de Outubro de 1973, dia de Yom Kippur, uma coligação de forças egípcias e sírias lançam uma ofensiva inesperada em território israelita. Esta é ordenada por Anwar Sadat que espera vingar  a humilhação sofrida na Guerra dos Seis Dias. Sadat pretendia desta forma recuperar os territórios perdidos no conflito supracitado e reabrir o Canal do Suez. A maioria dos confrontos tiveram lugar na Península do Sinai e nos Montes Golã. Eventualmente o IDF conseguiu contra-atacar e levar a guerra para território inimigo, aproximando-se perigosamente de Damasco. Temendo pela integridade territorial do seu maior aliado, Sadat ordenou nova ofensiva que foi no entanto rapidamente repelida. Novo contra-ataque dos Israelitas e a tomada da cidade de Suez. Por esta altura os Israelitas tinham adquirido uma vantagem considerável que fizeram valer na mesa negocial ao assinar o cessar-fogo que terminou a guerra a 25 de Outubro. Em 1978 os acordos de Camp David normalizaram as relações entre os dois países e o Egipto tornou-se a primeira nação árabe a reconhecer Israel.

Jimmy Carter preside aos Acordos de Camp David, firmados por Sadat e pelo primeiro ministro israelita Begin.


A Guerra do Yom Kippur esteve na origem do Primeiro Choque Petrolífero. Esta foi a primeira de duas crises de grandes proporções que abalaram a economia do petróleo durante a década de 70. Na sequência do conflito um embargo na venda de hidrocarbonetos foi dirigido pelos países árabes da OPEP àqueles que tinham oferecido suporte logístico ao esforço de guerra israelita, incluindo Portugal, provocando a escassez do recurso e a subida dos preços de forma nunca antes vista.

Durante os confrontos a coligação árabe pode contar com a ajuda da União Soviética, que durante muito tempo deu apoio moral e logístico à sua causa. Após a abertura de hostilidades entre os beligerantes os soviéticos prontamente montaram uma ponte área para abastecer as nações árabes de armas e material de guerra. Washington, assim como Telavive, foi apanhada completamente de surpresa pelo ataque, enfrentando um difícil dilema quanto ao abastecimento da sua nação aliada no Levante.

Logo após o início do conflito, a liga dos países árabes exportadores de petróleo tinha feito um anúncio inequívoco de que todos aqueles que tentassem fornecer meios ou apoio ao esforço israelita sofreriam as consequências, através de uma quebra no abastecimento de petróleo. Esta ameaça fez tremer os aliados europeus dos EUA que mantiveram o seu estatuto de neutralidade no conflito, negando aos diplomatas americanos o direito de aterragem e de passagem para os seus aviões. É neste momento que em desespero e rareando cada vez mais o tempo, a administração Nixon se vira para Portugal, nomeadamente para a sua base militar no arquipélago atlântico dos Açores.

Portugal enfrenta uma prolongada guerra de guerrilha nos seus territórios coloniais em África e encontra-se cada vez mais isolado internacionalmente. Muitos países impuseram embargos a Portugal, incluindo a administração Kennedy, ao mesmo tempo que a União Soviética aumenta decisivamente o seu abastecimento às milícias dos movimentos independentistas. A guerra contra as forças do PAIGC na Guiné encontra-se num impasse e afigura-se mais difícil quando os portugueses perdem o domínio dos céus, a sua última grande vantagem sobre os rebeldes.

O fornecimento dos soviéticos de avançados mísseis terra-ar às forças do PAIGC tornam imperativo o acompanhamento do exército português, pelo que Franco Nogueira anui à cedência do usufruto da base dos Açores em troca do envio de mísseis americanos Red Eye. Do mesmo modo, exige o fim do embargo do Congresso americano a Portugal, algo que dificilmente poderia ser atingido por Nixon. Henry Kissinger mostra-se irritado com estas exigências, fazendo uso de uma posição de força para pressionar Portugal à capitulação. Mais tarde no entanto, à revelia do embaixador americano em Lisboa, Kissinger contornará o embargo para ceder a Portugal o armamento necessário.

Portugal, que não era especialmente amigável com os israelitas nem especialmente hostil aos países árabes, providenciou no entanto um suporte vital ao esforço de guerra israelita. Não é portanto de surpreender que aquando do embargo na venda de petróleo, Portugal se torne um dos principais visados pela OPEP. O embargo disferiu um duro golpe na economia portuguesa, pondo fim ao curto período de prosperidade da abertura marcelista e precipitando uma taxa de inflação como os portugueses já não tinham memória.


Bibliografia:

MAXWELL, Kenneth; A Construção da Democracia em Portugal; Editorial Presença; Lisboa; 1999.
      

LAC  
   

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