Por ocasião da comemoração dos 110 anos sobre a Implantação da República Portuguesa (1910-2020), o Cabo Não prestou a sua homenagem a uma figura discreta mas cujo rosto é bem conhecido dos portugueses: Hilda Puga, uma costureira originária da vila alentejana de Arraiolos, que ficou para a História como modelo para o busto da República Portuguesa.
Moreau por sua vez escolhera a divindade Athena como modelo, evocando a raiz grega da democracia. Com poucas alterações até aos dias de hoje, a República foi representada como uma jovem de semblante determinado e peito descoberto, ostentando o barrete frígio e por vezes uma coroa de louros.
O primeiro uso oficial ocorre em Julho de 1789, com a emissão de uma medalha que celebra a Tomada da Bastilha. Não tardou para a figura ser acarinhada com o epíteto Marianne, um nome feminino associado às classes populares, que faz eco da participação cívica do povo francês no esforço revolucionário.
No primeiro dia de Fevereiro de 1908, o rei D. Carlos e o Príncipe Real D. Luís Filipe são assassinados no Terreiro do Paço. Com o desaparecimento do chefe de estado e do seu herdeiro, a Monarquia Portuguesa entrava numa fase de agonia que só acabaria em Outubro de 1910. Para o recrudescente movimento republicano que antevê a vitória eminente é a hora de criar os seus próprios mitos.
Na última década do século XIX, os republicanos desenvolvem os símbolos que em 1911 se tornarão o Hino e a Bandeira de Portugal. Em 1890 a marcha patriótica A Portuguesa é composta por Alfredo Keil e Henrique Mendonça como reacção ao ultimato britânico. No ano seguinte a bandeira verde e vermelha será desfraldada a partir da varanda da Câmara Municipal do Porto, na revolta republicana gorada de 31 de Janeiro.
Ficava a faltar uma representação antropomórfica que personificasse a Nação e os valores da república emergente, para a qual a referência será inevitavelmente a Marianne francesa. Em 1908 um grupo de republicanos liderados pelo presidente da Câmara de Lisboa Braamcamp Freire, vão entregar a missão a José Simões de Almeida. Será precisamente na baixa lisboeta que o escultor vai encontrar o rosto e inspiração por detrás da sua efígie da República.
A musa improvável será Hilda Puga, uma jovem de 16 anos empregada na camisaria da Rua Augusta da qual Simões de Almeida é cliente. Capturado pela beleza e simplicidade dos traços da costureira, o escultor vai pedir-lhe para ser sua modelo. Como Hilda é ainda menor de idade o convite é dirigido à sua mãe, que tendo visto outras representações da República, aceita com a condição de a filha posar sempre vestida.
As sessões de duas horas decorreram no ateliê do artista, todos os dias ao longo de um mês, debaixo da vigilância constante da mãe. Hilda nunca se vangloriou do seu serviço patriótico, tendo mesmo tentado escondê-lo durante a maior parte da vida devido aos valores da sociedade vigente. Continuou a trabalhar como modesta costureira o resto da sua vida, tendo falecido em 1993 no dia do seu 101º aniversário.
Bibliografia:
LAC
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