terça-feira, 4 de junho de 2019

ESPECIAL GUERRA FRIA: REVOLUÇÃO HÚNGARA


Na sequência da morte de Joseph Stalin em 1953 a retórica adoptada pelo seu sucessor Nikita Khrushchev pareceu apontar no sentido de uma liberalização das repúblicas soviéticas. No vigésimo congresso do PCUS (Partido Comunista da União Soviética) Khruschev denunciou o terror stalinista e o culto de personalidade erguido em torno do ditador, fazendo antever um período de abertura e abrandamento da repressão. No bloco soviético esta tendência materializa-se na admissão de comunistas moderados nos governos da Hungria e da Polónia.


Desde 1947 que a Hungria era governada pelo regime stalinista de Mátyás Rákosi que a partir de Março de 1953 vai empossar o progressista Imre Nagy como seu primeiro-ministro. Segue-se a queda do próprio Rákosi que é substituído pelo "igualmente conservador" Ernest Gerö que imediatamente depõe o recém-empossado Nagy. A demissão de Nagy em 1955 lança ondas de choque entre os reformistas húngaros e vai ser vista como um grande recuo que não tardará em ter consequências.

Michael Rougier—The LIFE Picture Collection/Getty Images

No dia 23 de Outubro de 1956 a frustração das expectativas liberalizantes do povo húngaro vai motivar 50.000 protestantes a conglomerarem-se no centro de Budapeste. Os manifestantes reivindicam a retirada das tropas soviéticas, a convocação de eleições pluralistas, a libertação dos presos políticos e a recondução de Nagy ao poder. Quando postos militares e policiais estratégicos são capturados e os cidadãos se apossam de armamento, dá-se início à Revolução Húngara.

O governo situacionista solicita de imediato a intervenção militar soviética para restaurar a ordem. O governo revolucionário chefiado por Nagy vai tomar posse, mantendo à cautela o conservador Gerö na liderança do partido. Com a insurreição sem sinais de abrandar, Gerö não tardará a ser substituído por János Kádar, “um conservador mais pragmático”.

Michael Rougier—The LIFE Picture Collection/Getty Images

A 28 de Outubro a agitação parece serenar com os confrontos entre facções a tornarem-se mais esporádicos. Este período de interrupção vai permitir a Nagy adoptar as primeiras medidas revolucionárias com a incorporação de membros não-comunistas no governo e a abolição da AHV (polícia política). Entretanto as forças do Exército Vermelho levam a cabo uma retirada estratégica e abandonam território húngaro.

Estes desenvolvimentos levaram os revolucionários húngaros a acreditar erroneamente que a revolução estava ganha e até mesmo a acção política do Politburo parecia apontar no sentido da não-intervenção. Tudo vai mudar no dia 31 de Outubro com a decisão soviética de lançar uma operação militar em larga escala contra a Hungria. A 4 de Novembro o Exército Vermelho entra em Budapeste e reprime a sublevação “com uma força militar esmagadora”.

Na ressaca dos acontecimentos Imre Nagy será detido, julgado e fuzilado. O situacionista entretanto exilado János Kádar voltará da Rússia para instaurar o regime que governará com punho de ferro os destinos da nação ao longo dos próximos 32 anos.


Fonte bibliográfica:

BOYLE, Peter Gerard; "The Hungarian Revolution and the Suez Crisis" in History, Journal of the Historical Association, Volume 90 (300), pp. 550-565; Blackwell Publishing Limited; Oxford, Reino Unido (11 de Outubro de 2005).


LAC

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