Na sequência da morte de Joseph Stalin em 1953 a retórica adoptada pelo seu sucessor Nikita Khrushchev pareceu apontar no sentido de uma liberalização das repúblicas soviéticas. No vigésimo congresso do PCUS (Partido Comunista da União Soviética) Khruschev denunciou o terror stalinista e o culto de
personalidade erguido em torno do ditador, fazendo antever um período de
abertura e abrandamento da repressão. No bloco soviético esta tendência
materializa-se na admissão de comunistas moderados nos governos da Hungria e
da Polónia.
Desde 1947 que a Hungria era governada pelo regime stalinista de Mátyás
Rákosi que a partir de Março de 1953 vai empossar o progressista Imre Nagy como
seu primeiro-ministro. Segue-se a queda do próprio Rákosi que
é substituído pelo "igualmente conservador" Ernest Gerö que
imediatamente depõe o recém-empossado Nagy. A demissão de Nagy em 1955 lança
ondas de choque entre os reformistas húngaros e vai ser vista como um grande
recuo que não tardará em ter consequências.
Michael Rougier—The LIFE Picture Collection/Getty Images |
No dia 23 de Outubro de 1956 a frustração das expectativas liberalizantes
do povo húngaro vai motivar 50.000 protestantes a conglomerarem-se no centro de
Budapeste. Os manifestantes reivindicam a retirada das tropas soviéticas, a
convocação de eleições pluralistas, a libertação dos presos políticos e a
recondução de Nagy ao poder. Quando postos militares e policiais estratégicos
são capturados e os cidadãos se apossam de armamento, dá-se início à Revolução
Húngara.
O governo situacionista solicita de imediato a intervenção militar
soviética para restaurar a ordem. O governo revolucionário chefiado por Nagy
vai tomar posse, mantendo à cautela o conservador Gerö na liderança do partido.
Com a insurreição sem sinais de abrandar, Gerö não tardará a ser substituído
por János Kádar, “um conservador mais pragmático”.
Michael Rougier—The LIFE Picture Collection/Getty Images |
A 28 de Outubro a agitação parece serenar com os confrontos entre facções a
tornarem-se mais esporádicos. Este período de interrupção vai permitir a Nagy
adoptar as primeiras medidas revolucionárias com a incorporação de membros
não-comunistas no governo e a abolição da AHV (polícia política). Entretanto as
forças do Exército Vermelho levam a cabo uma retirada estratégica e abandonam
território húngaro.
Estes desenvolvimentos levaram os revolucionários húngaros a acreditar
erroneamente que a revolução estava ganha e até mesmo a acção política do
Politburo parecia apontar no sentido da não-intervenção. Tudo vai mudar no dia
31 de Outubro com a decisão soviética de lançar uma operação militar em larga
escala contra a Hungria. A 4 de Novembro o Exército Vermelho entra em Budapeste
e reprime a sublevação “com uma força militar esmagadora”.
Na ressaca dos acontecimentos Imre Nagy será detido, julgado e fuzilado. O
situacionista entretanto exilado János Kádar voltará da Rússia para instaurar o
regime que governará com punho de ferro os destinos da nação ao longo dos
próximos 32 anos.
Fonte bibliográfica:
BOYLE, Peter Gerard; "The Hungarian Revolution and the Suez Crisis" in History, Journal of the Historical Association, Volume 90 (300), pp. 550-565; Blackwell Publishing Limited; Oxford, Reino Unido (11 de Outubro de 2005).
LAC
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