quarta-feira, 5 de junho de 2019

ESPECIAL GUERRA FRIA: PRIMAVERA DE PRAGA


É referido como Primavera de Praga o efémero período de liberalização e reivindicação política ocorrido em 1968 na República Socialista da Checoslováquia sob a égide de Alexander Dubcek. A partir da sua ascensão ao cargo de secretário-geral do Partido Comunista checoslovaco (KSC) em Janeiro de 1968, Dubcek vai empreender uma série de reformas conducentes à descentralização da economia e à democratização do sistema político.


Logo em Janeiro o novo governo anuncia um abrandamento da censura e programas de reabilitação para vítimas do terror stalinista. Em Abril promulgou revisões constitucionais que previam a autonomia da Eslováquia, acrescidas garantias civis e um plano com vista à democratização paulatina do regime político. Dubcek pretendia reformar o sistema por dentro e propunha-se a criar, nas palavras do próprio, “um socialismo com face humana”.

Em Junho uma fracção considerável do povo checo aplaudia a mudança e clamava por uma aceleração do processo de democratização. Os desenvolvimentos não foram no entanto do agrado de todos e não tardou para a União Soviética e outros países do Pacto de Varsóvia rotularem as medidas de Dubcek de contra-revolucionárias.


No dia 20 de Agosto mais de meio milhão de tropas e blindados do Pacto de Varsóvia invadem e procedem à ocupação militar da Checoslováquia. Apesar de não ter havido resistência militar organizada, os checos demonstraram a sua união ao levar a cabo aquele que se mantém ainda hoje como um dos mais evocados exemplos de desobediência civil. Através de acções de guerrilha, sabotagem e protesto dificultaram a ocupação do seu país, inicialmente prevista pelos soviéticos de demorar quatro dias acabando por se arrastar durante oito meses.

Debaixo dos olhares do mundo, a resistência checa viveu momentos dramáticos como a auto-imolação do estudante universitário de 20 anos Jan Palach na Praça Wenceslas no dia 16 de Janeiro de 1969. Palach sucumbiria das suas queimaduras quatro dias depois e torna-se-ia o símbolo da resistência contra a agressão soviética. O seu funeral no dia 25 de Janeiro foi um dos momentos altos da contestação com várias dezenas de milhares de pessoas a tomarem parte numa marcha em sua homenagem. O seu exemplo inspirou pelo menos duas outras acções semelhantes: a do estudante Jan Zajíc no mesmo local e a do fabricante de ferramentas Evzen Plocek em Jihlava.


O "mártir" checo Jan Palach (1948-1969)

No rescaldo da invasão, os comunistas de linha dura são reconduzidos ao poder com Gustáv Husák a encabeçar o novo governo, dando início ao denominado período da "Normalização". As reformas efémeras da Primavera de Praga são revertidas, com excepção do estatuto autónomo da Eslováquia. Dubcek é deposto e mais tarde expulso do partido.

A Checoslováquia permaneceria debaixo do jugo da União Soviética até 1989, quando a Revolução de Veludo suavemente afastou o regime comunista pondo fim a mais de quatro décadas de totalitarismo. Em Junho de 1990 o povo checo era convidado a participar nas primeiras eleições pluralistas e no ano seguinte as últimas tropas soviéticas retiravam do território. Por fim, no dealbar do ano de 1993 a Checoslováquia dividia-se nos dois estados actuais da República Checa e Eslováquia.


LAC

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