terça-feira, 22 de janeiro de 2019

LEWIS W. HINE E O PAPEL SOCIAL DO FOTÓGRAFO


No início do século XX a fotografia documental do sociólogo Lewis W. Hine teve um papel determinante em promover mudanças na legislação de trabalho infantil dos Estados Unidos. Adoptando uma variedade de disfarces - entre os quais inspector de incêndios e vendedor de bíblias - fotografou as condições de trabalho em minas de carvão, fábricas de algodão, pescarias e nas ruas onde encontrou os miúdos "ardinas" ou "engraxadores". A onda de sensibilização gerada pelo seu trabalho inspirou reformas legislativas como o Keating-Owen Act de 1916. A partir da década de 1920 o trabalho infantil começou a desaparecer nos Estados Unidos.

"Breaker Boys" da Pennsylvania Coal Company

Foi enquanto professor da Ethical Culture School de Nova Iorque que Lewis Hine recebeu do director da escola a sua primeira máquina fotográfica. Nas suas mãos a câmara converter-se-ia numa poderosa ferramenta para denunciar os males da sociedade de então, como a pobreza endémica e a exploração no trabalho. Rapidamente o professor Hine se apercebeu do potencial da fotografia para educar, não apenas estudantes mas uma sociedade norte-americana em acelerada mudança. Em 1905 produz a sua primeira série de fotografias quando leva os seus alunos para Ellis Island, onde testemunha e documenta a chegada diária de milhares de imigrantes ao Novo Mundo.

Em 1908 decide abandonar o ensino para se tornar investigador e fotógrafo do National Child Labour Comitee. É neste contexto que ao longo dos dez anos seguintes vai percorrer os Estados Unidos, recolhendo imagens das árduas condições de trabalho das crianças e também dos bairros de lata onde os trabalhadores residiam. No decorrer das suas investigações, foi frequentemente recebido com violência ou mesmo ameaçado de morte por seguranças e capatazes das fábricas. Esta hostilidade forçou-o a adoptar uma série de disfarces que o ajudariam a passar incólume, como inspector de incêndios ou vendedor de bíblias.

A  experiência passada como professor facilitou o seu contacto com as crianças. Uma vez nas fábricas tentava extrair o máximo de informação possível sobre as condições de vida, circunstâncias que forçavam estas crianças a trabalhar, idades e nomes. Como era frequente não conseguir determinar as idades apenas através do diálogo, desenvolveu a técnica de comparar a altura das crianças com a dos botões do seu casaco, obtendo assim estimativas aproximadas.

As investigações de Lewis W. Hine revelaram um universo tenebroso de exploração de crianças, algumas tão jovens quanto os cinco anos de idade, muitas vezes provenientes de famílias imigrantes desvalidas que dependiam dos seus salários para complementar os escassos orçamentos domésticos. A fotografia documental alertou o público americano para a imoralidade da exploração e esteve na génese de uma revigorada vaga de reformas legislativas contra o trabalho infantil, iniciada com o Keating-Owen Act de 1916.

A partir da década de 1920 com o maior zelo no cumprimento das leis laborais a incidência de trabalho infantil nos Estados Unidos começou a decair a olhos vistos. Todavia a supressão total só seria alcançada  com o Fair Labour Estatistics Act de 1938 que embora ainda contemplasse o emprego de maiores de catorze anos em funções que não comprometessem o seu desempenho escolar, determinou a proibição de sujeitar menores de dezoito a trabalhos de risco.


"Breaker Boys" (South Pittston, Pennsylvania)

"Jovem condutor numa mina" (Brown, West Virginia)

"Rapaz mensageiro da Mackay Telegraph Company" (Waco, Texas)

"Engraxador de rua" (City Hall Park, Nova Iorque)

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