Prisioneiros portugueses do CEP em campo alemão (Arquivo Federal Alemão) |
No dia em que se comemora o centenário do armistício que pôs fim à Grande Guerra (1914-1918) prestamos a nossa homenagem aos soldados portugueses que se viram obrigados a combater num conflito que não lhes pertencia e que a maioria do povo não desejou.
Na madrugada do dia 9 de Abril de 1918, as forças alemãs iniciam o seu ataque às linhas aliadas na região de La Lys, na Flandres. O ataque fora planeado pelo General Ludendorff, durante a sua Ofensiva da Primavera, conferindo-lhe o nome de Operação Georgette. O objectivo da ofensiva será a captura da cidade de Ypres, forçando as forças britânicas a retirarem-se para os portos de embarque e, desta forma, evacuar as suas posições originais facilitando o movimento das forças imperiais para Paris e a ocupação militar alemã da Flandres.
A massa do ataque inimigo concentrar-se-á no sector português, constituído na sua totalidade pelas forças do Corpo Expedicionário Português (CEP), recentemente instalado nas trincheiras após a adesão da República Portuguesa ao conflito. O seu Comandante-Geral foi o General Fernando Tamagnini de Abreu e Silva, responsável pelo treino e mobilização do corpo. A mobilização que foi caracterizada pela sua rapidez e atabalhoamento foi denominada como o "Milagre de Tancos". Posteriormente o comando total das forças portuguesas no teatro europeu foi atribuído ao Ministro da Guerra Norton de Matos.
General Tamagnini em Tancos |
A ofensiva dá-se às 4:15 da madrugada, quando os alemães iniciam a sua barragem de artilharia sob os quartéis-generais, comandos de batalhões, trincheiras e cruzamentos de entradas no sector português. As forças imperiais vão recorrer simultaneamente a gás asfixiante causando pânico e debandada. De imediato, as trincheiras são severamente atingidas com a inutilização das linhas telegráficas e telefónicas, o que vai impedir o municiamento apropriado e a transmissão de informação entre as linhas da frente e a retaguarda.
As duas divisões resistem ao choque frontal da ofensiva durante um longo período, porém são obrigadas a recuar após inúmeras baixas. Os mortos, feridos e prisioneiros portugueses acumulam-se, registando-se cerca de 7.000 baixas do lado português. O avanço inimigo só é impedido após a reorganização militar inglesa nas zonas laterais do sector do CEP, que socorrem as tropas portuguesas em fuga.
Soldados do CEP em formação de combate na Flandres |
Após o desastre chega a hora da distribuição das culpas e os ingleses apontam o dedo à cobardia portuguesa. Por sua parte a propaganda republicana culpa os ingleses pela sua falta de assistência aos soldados portugueses. O General Tamagnini afirma que a culpa não parte dos ingleses, mas sim de toda uma conjuntura propícia para o sucesso de um potencial ataque inimigo.
“Não obstante os indícios manifestos dos grandes movimentos de tropas na frente do sector nos primeiros dias de Abril, o comando britânico não possuía informações bastantes para o habilitarem a bem conhecer a situação”
General Tamagnini, Os meus três comandos, 1923
O CEP nunca mais desempenhará um papel relevante nas operações militares da Frente Ocidental e o General Tamagnini não consegue evitar a sua absorção pelo comando britânico. A falta de efectivos e de oficiais resultantes das perdas e deserções sentenciará a dissolução do Corpo Expedicionário Português.
Fontes bibliográficas:
MARQUES, Isabel Pestana; Memórias do General 1915-1919; SACRE; 2004.
VIEIRA, Joaquim; Crónicas em Imagens: Portugal no Século XX (1910-1920); Círculo de Leitores; 1999.
FAC
Sem comentários:
Enviar um comentário