domingo, 11 de novembro de 2018

100 ANOS DO ARMISTÍCIO: A BATALHA DE LA LYS


Prisioneiros portugueses do CEP em campo alemão (Arquivo Federal Alemão)

No dia em que se comemora o centenário do armistício que pôs fim à Grande Guerra (1914-1918) prestamos a nossa homenagem aos soldados portugueses que se viram obrigados a combater num conflito que não lhes pertencia e que a maioria do povo não desejou.

Na madrugada do dia 9 de Abril de 1918, as forças alemãs iniciam o seu ataque às linhas aliadas na região de La Lys, na Flandres. O ataque fora planeado pelo General Ludendorff, durante a sua Ofensiva da Primavera, conferindo-lhe o nome de Operação Georgette. O objectivo da ofensiva será a captura da cidade de Ypres, forçando as forças britânicas a retirarem-se para os portos de embarque e, desta forma, evacuar as suas posições originais facilitando o movimento das forças imperiais para Paris e a ocupação militar alemã da Flandres.

A massa do ataque inimigo concentrar-se-á no sector português, constituído na sua totalidade pelas forças do Corpo Expedicionário Português (CEP), recentemente instalado nas trincheiras após a adesão da República Portuguesa ao conflito. O seu Comandante-Geral foi o General Fernando Tamagnini de Abreu e Silva, responsável pelo treino e mobilização do corpo. A mobilização que foi caracterizada pela sua rapidez e atabalhoamento foi denominada como o "Milagre de Tancos". Posteriormente o comando total das forças portuguesas no teatro europeu foi atribuído ao Ministro da Guerra Norton de Matos.


General Tamagnini em Tancos

A eficiência da participação portuguesa no conflito será comprometida pela falta de meios, por uma crescente desmoralização no seio dos combatentes e pela inadaptação ao rígido clima da Flandres. O Comandante-Geral pede por várias vezes a substituição dos seus homens, que se mostram incapazes de suster o ataque inimigo. Porém o seu pedido é repetidamente ignorado pelos comandantes britânicos e a substituição só seria efectuada na sequência da sangrenta batalha.

A ofensiva dá-se às 4:15 da madrugada, quando os alemães iniciam a sua barragem de artilharia sob os quartéis-generais, comandos de batalhões, trincheiras e cruzamentos de entradas no sector português. As forças imperiais vão recorrer simultaneamente a gás asfixiante causando pânico e debandada. De imediato, as trincheiras são severamente atingidas com a inutilização das linhas telegráficas e telefónicas, o que vai impedir o municiamento apropriado e a transmissão de informação entre as linhas da frente e a retaguarda.

As duas divisões resistem ao choque frontal da ofensiva durante um longo período, porém são obrigadas a recuar após inúmeras baixas. Os mortos, feridos e prisioneiros portugueses acumulam-se, registando-se cerca de 7.000 baixas do lado português. O avanço inimigo só é impedido após a reorganização militar inglesa nas zonas laterais do sector do CEP, que socorrem as tropas portuguesas em fuga.


Soldados do CEP em formação de combate na Flandres

Os comandantes do corpo português, Gomes da Costa e Fernando Tamagnini, recebem sem surpresa este resultado. Os seus homens tinham passado meses guardando o seu sector sem reforços "frescos", chegando mesmo a aguentar a sua posição durante um ano inteiro sem efectuar o roulement (termo utilizado pelas forças aliadas para a substituição de sectores).

Após o desastre chega a hora da distribuição das culpas e os ingleses apontam o dedo à cobardia portuguesa. Por sua parte a propaganda republicana culpa os ingleses pela sua falta de assistência aos soldados portugueses. O General Tamagnini afirma que a culpa não parte dos ingleses, mas sim de toda uma conjuntura propícia para o sucesso de um potencial ataque inimigo.

“Não obstante os indícios manifestos dos grandes movimentos de tropas na frente do sector nos primeiros dias de Abril, o comando britânico não possuía informações bastantes para o habilitarem a bem conhecer a situação
General Tamagnini, Os meus três comandos, 1923

O CEP nunca mais desempenhará um papel relevante nas operações militares da Frente Ocidental e o General Tamagnini não consegue evitar a sua absorção pelo comando britânico. A falta de efectivos e de oficiais resultantes das perdas e deserções sentenciará a dissolução do Corpo Expedicionário Português.


Fontes bibliográficas:
MARQUES, Isabel Pestana; Memórias do General 1915-1919; SACRE; 2004.
VIEIRA, Joaquim; Crónicas em Imagens: Portugal no Século XX (1910-1920); Círculo de Leitores; 1999.


FAC

Sem comentários:

Enviar um comentário