segunda-feira, 16 de julho de 2018

DA REVOLUÇÃO À CONSOLIDAÇÃO DEMOCRÁTICA (1974-1976): PARTE II



"Um problema difícil" (João Abel Manta).

(continuação)

Os acontecimentos precipitam-se: o COPCON recebe informações secretas que está em marcha um golpe militar de direita e contrariamente, o General Spínola toma conhecimento de uma operação da esquerda radical que tenciona eliminar elementos conservadores que fica conhecida como "Matança da Páscoa". O ano de 1975 começava sob o auspício da violência política.

No dia 11 de Março de 1975, tropas pára-quedistas suspeitas de estarem ligadas à facção spinolista atacam o Regimento de Artilharia Ligeira (RAL1) em Lisboa. Ao princípio da tarde os pára-quedistas levantam o cerco e os lados opositores encaram-se fraternalmente. A intervenção do Comandante Costa Correia, legitimado pelo seu prestígio como herói de Abril, é vital na dissuasão de um confronto fratricida.

O Presidente Costa Gomes acusa em directo o General Spínola de ser responsável pelo golpe. Procede-se à reunião de uma Assembleia Extraordinária do MFA com vista a extinguir a Junta de Salvação Nacional. Em contrapartida o Conselho de Estado é extinto e suplantado pelo Conselho da Revolução que propõe um plano para as nacionalizações e a reforma agrária.

Com o 11 de Março assiste-se a uma nova viragem à esquerda do processo revolucionário: cresce a influência do círculo sob a égide de Vasco Gonçalves que reforça as pretensões extremistas do IV Governo Provisório (26 de Março de 1975) e do V Governo Provisório (8 de Agosto de 1975).

A 2 de Abril iniciam-se a primeira campanha eleitoral para a Assembleia Constituinte. A 11 de Abril é assinado o Pacto MFA-Partidos que reforça os poderes do MFA e do Conselho da Revolução. As eleições de 25 de Abril de 1975, às quais afluem 98% dos portugueses, é saldada por uma vitória do PS que reúne 38% das intenções, com o PPD a receber 26% e o PCP 12,5%.

Este resultado eleitoral contraria a orientação política até então seguida pelo MFA o que motiva o Conselho da Revolução a apelar à aceleração do PREC.

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Capa da revista Times (11 de Agosto de 1975).

O Partido Comunista de Álvaro Cunhal incita o movimento agrário no interior do país, com particular incidência no Alentejo, debaixo do mote de "a terra a quem a trabalha". Na região norte do país predominam os sectores conservadores e católicos que atacam as sedes e boicotam as sessões de esclarecimento dos comunistas. Um fosso ideológico abre-se entre a população portuguesa e as agendas políticas radicalizam-se de parte a parte.

O Partido Socialista de Mário Soares demarca-se dos comunistas e confronta as aspirações gonçalvistas. Vasco Gonçalves assume uma voz inconformista e num discurso público proclama: "Hoje põe-se este problema sem dúvidas nenhumas, só há duas alternativas ou se está com a revolução ou se está com a reacção, não há terceiras vias nem neutros aqui!"



Os militares mais moderados tentam apaziguar a situação e é criado o Grupo dos Nove, liderado por Melo Antunes. O grupo avança com uma proposta de transição pacífica para a democracia e prepara-se para agir militarmente na eventualidade de uma intentona gonçalvista. Nesta conjuntura política Otelo Saraiva de Carvalho revela-se um elo de ligação precioso entre os dois movimentos, ora a favor dos Nove ou auxiliando os gonçalvistas com recurso ao braço armado do COPCON.

Na Assembleia do MFA em Tancos, o governo de Vasco Gonçalves é derrubado por uma aliança entre o Grupo dos Nove, o Partido Socialista e membros afectos a Otelo Saraiva de Carvalho. Seria suplantado pelo sexto e último governo provisório, encabeçado por Pinheiro de Azevedo.

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Francisco Caldas Alexandre

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